Jornal Estado de Minas 30/08/2009
No debate político, surgem, de vez em quando, teses sobre as eleições que têm cara de verdade, mas que resistem mal ao teste da comprovação. Elas aparecem sabe-se lá o por que e ocupam a atenção por alguns momentos. Como não se sustentam em nada, ficam voando por aí e logo vão embora. Nesta semana, tivemos um exemplo delas. Não é uma tese original, mas não tinha sido ainda aplicada à eleição presidencial de 2010.
Fez, então, seu debute nas discussões sobre o que vai ocorrer na escolha do sucessor de Lula. É uma tese que, no geral, não faz qualquer sentido. Segundo ela, quem lidera as pesquisas a um ano de uma eleição termina por vencê-la. Como? Mas não há dezenas de exemplos que desconfirmam essa regra? Não temos casos e mais casos de candidatos que estavam muitíssimo bem quando faltava um ano para uma eleição e terminaram derrotados? Em todos os estados e grandes cidades, existe pelo menos uma candidatura que passou por esse tipo de sobe e desce.
Quem não se lembra de Paulo Maluf e de tantos outros candidatos de desempenho semelhante? Na verdade, o que vimos nestes dias foi uma versão adaptada da tese. Não que, em toda e qualquer eleição, aconteça de o candidato que lidera as pesquisas a um ano de sua realização terminar ganhando-a. Apenas nas eleições presidenciais. Com essa especificação, a tese fica mais verossímil.
Como são tão poucas as eleições presidenciais que fizemos neste Brasil de hoje, apontar um ou dois exemplos já parece suficiente para considerar demonstrada qualquer tese sobre elas. Na formulação em que circulou, teríamos que Serra vai ganhar a eleição de 2010 por estar hoje na frente nas pesquisas de intenção de voto, como foi o caso de Fernando Henrique em 1998 e de Lula em 2002. Se os dois lideravam as pesquisas em 1997 e em 2001, respectivamente, e venceram no ano seguinte, se deduziria que Serra vai ganhar em 2010, pois lidera em 2009.
Esse é um exemplo dos muitos males que a falta de maior experiência democrática pode trazer a um país. Com apenas cinco eleições, estamos longe de poder falar em regras, pois os casos concretos são sempre poucos. Ninguém consegue diferenciar uma regra de uma simples coincidência. Quem olhar para as nossas eleições à procura de argumentos em favor dessa tese vai ter, no entanto, uma tarefa difícil. Senão, vejamos. Em 1988, a um ano da eleição que Collor venceu, ele mal existia nas pesquisas.
Em dezembro, suas intenções estimuladas de voto eram de 7% e ele estava em sexto lugar. As de Lula, 11%. Como todos lembram, os dois fizeram o segundo turno em 1989. A um ano da eleição seguinte, quem liderava todas as pesquisas era Lula, seguido por Sarney. Ainda em maio de 1994, Lula alcançava 42%, ficando Fernando Henrique com 16%. Quem ganhou aquela eleição no primeiro turno? Indo para 2001, é fato que Lula liderava as pesquisas e que venceu no ano seguinte. Não nos esqueçamos, porém, que Serra tinha, em outubro daquele ano, 6% e estava em quinto lugar. Foi ele quem disputou com Lula o segundo turno.
Quatro anos mais tarde, com Lula na Presidência, era Serra quem liderava. Em dezembro de 2005, Serra tinha 36% e Lula 29%. Um ano depois, Serra nem se candidatou e Lula venceu. Resta 1998, o ano que confirmaria a “regra” de um só caso. Nela, aconteceu de o líder que sempre esteve na frente, depois que foi aprovada a reeleição, vencer, seguido de quem sempre esteve em segundo lugar. Por enquanto, o máximo que podemos dizer é que não temos regras em nossas eleições presidenciais. Já tivemos de tudo: quem liderava um ano antes perder, vencer no primeiro turno, apenas no segundo ou nem ser candidato.
A respeito de 2010, quem tem juízo acompanha prudentemente os acontecimentos. Quem diz que sabe o que vai acontecer apenas explicita o que gostaria que os fatos fossem.
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