quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A mais nova ameaça


Coluna da jornalista Míriam Leitão

A economia está sem ministro da Fazenda, em crise, com os mais importantes economistas rebelados contra o Banco Central, e uma agência de risco pondo a nota do país em perspectiva negativa. Nada disso é por acaso ou fruto da natural efervescência eleitoral. A situação está grave mesmo e, como tenho dito aqui, não por causa do mundo, mas por erros cometidos internamente.

Tudo o que envolve o abaixo-assinado contra o Banco Central é fato inédito. Mesmo em um governo que tem o hábito de culpar o mensageiro pelos alertas sobre os riscos que o país enfrenta, o Banco Central se mantinha como um oásis de sensatez, local que preferia usar os argumentos para convencer seus críticos. Mas, no caso do economista Alexandre Schwartsmann, a decisão foi de entrar na Justiça contra o crítico.

Entre os que protestaram contra a atitude do BC estão desde ex-presidentes do órgão em governos diferentes, até economistas que ocuparam cargos na diretoria em períodos em que o PT já dirigia o país. Ontem, após a pressão, o BC desistiu de recorrer da ação.

A maneira como foi conduzido o episódio do lay-off do ministro da Fazenda acabou se transformando em um movimento com dois resultados negativos. Primeiro, o país, numa situação difícil, tem agora um ministro completamente desacreditado no cargo.

Ele ficará lá contando o tempo para sair e ainda faltam quase quatro meses para o fim do mandato. Segundo, a vantagem que se teria com a mudança no Ministério da Fazenda, que é infundir confiança de que os erros da política econômica seriam corrigidos, foi anulada quando a presidente Dilma disse que Guido Mantega só sairá porque quer.

Ou seja, não é um movimento que indica que num segundo mandato — se eventualmente ela o receber das urnas — haja uma correção de rumos. E o país precisa é dessa correção, antes que seja tarde.

O alerta de ontem da Moody’s foi um movimento menos eloquente do que o feito pela Standard & Poor’s em março. A S&P rebaixou a nota do Brasil alertando que estava acontecendo o que os meses seguintes confirmaram: baixo crescimento e deterioração fiscal.
A Moody’s, que na época manteve a perspectiva, agora a trocou para negativa. Não é um rebaixamento, mas um aviso de que pode vir a tomar essa decisão. Seja como for, uma agência rebaixou a nota e a outra disse que pode fazê-lo. 

Por menos que gostemos das classificadoras de riscos — e por mais que saibamos dos erros que elas cometeram — a alocação de recursos dos grandes fundos de investimento são determinados por essas notas; e o custo dos empréstimos dos entes públicos e privados do Brasil também é determinado pela nota. Pela S&P, o Brasil está apenas um degrau acima da linha que separa o grau de investimento do grau especulativo.

Parte da reação da economia virá se melhorar o grau de confiança em que os problemas serão enfrentados e superados. Por isso, o eleito este ano, mesmo sendo a atual presidente, deve usar bem a força das urnas. Elas dão à pessoa eleita, mesmo que já esteja no poder, a chance de aproveitar a lua de mel e anunciar medidas que recuperem a confiança.

Quem mais precisa convencer que mudará é sempre quem já está no poder, por isso a presidente Dilma desperdiçou uma bala na agulha quando avisou, na hora errada, que tiraria o ministro e, dias depois, para se corrigir, disse que ele só sai porque quer. O que se quer é que o país saia da situação de estagnação com inflação alta, piora do quadro fiscal e déficit em transações correntes.

Levar a atual política às “últimas consequências”, como o ministro Mantega disse que a presidente Dilma fará, não é promessa. É ameaça.


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O Mensalão 2


No Brasil da era PT, tornou-se difícil saber onde começa e onde termina o mar de corrupção. A única certeza é que, enquanto o mesmo time se mantiver no comando do país, o surgimento de novos e mais escabrosos casos é apenas questão de tempo. O escândalo da hora é sempre pior que aquele que o antecedeu.

O partido que se notabilizou por institucionalizar a compra de votos como método de governabilidade também se destaca por ter transformado o mensalão numa prática permanente. O que muda é o caixa de onde saem os recursos para irrigar bolsos dispostos a vender apoio político: são cada vez mais polpudos.

Estamos agora diante do que se pode chamar de “mensalão 2”: a sangria de dinheiro da Petrobras para remunerar uma imensa e escusa rede de sustentação ao governo do PT no Congresso. Pelo pouco que já se sabe, ministros de Estado, governadores, senadores e deputados estão na lista da grossa propina. Deve haver muito mais.

As revelações foram feitas por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, e divulgadas pela edição da revista Veja desta semana. Preso em março, depois solto e novamente encarcerado em junho, ele decidiu entregar nomes de quem se beneficiou de esquema que, calcula-se, pode ter lesado os cofres públicos em R$ 10 bilhões nos últimos anos.

Pelo que Costa afirmou, a rede de corrupção era alimentada com o equivalente a 3% do valor dos contratos que a área que ele comandou fechava. Se considerados apenas os investimentos realizados pela diretoria de Abastecimento, daria R$ 3,4 bilhões, num cálculo linear feito pelo Valor Econômico com base nos balanços da estatal entre 2004 e 2012.

A consequência política e eleitoral é cristalina: neste período, a candidata-presidente Dilma Rousseff foi a figura de proa da Petrobras. Como ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, como presidente do Conselho de Administração da estatal e como presidente da República. O mensalão 2 é obra de Dilma e do PT, assim como o mensalão 1 foi obra de Lula e seus 40 réus.

Assim como seu tutor, a atual presidente insiste em dizer que nada sabia e que, enquanto comandou a administração da Petrobras, suas decisões mais importantes foram tomadas com base em documentos falhos. Será que ela acha que isso é abonador?

Agora, confrontada com as novas revelações, diz que “não lançam suspeita nenhuma sobre o governo, na medida em que ninguém do governo foi oficialmente acusado”. Das duas, duas: Dilma é conivente com malfeitos que se acumulam em seu governo e age de forma temerária ao comandar o país. Tanto numa hipótese quanto na outra, a conclusão é uma só: não merece continuar por mais quatro anos assistindo impassível ao mar de lama avançar.

Fonte: ITV