Coluna da jornalista
Míriam Leitão
A
economia está sem ministro da Fazenda, em crise, com os mais importantes
economistas rebelados contra o Banco Central, e uma agência de risco pondo a
nota do país em perspectiva negativa. Nada disso é por acaso ou fruto da
natural efervescência eleitoral. A situação está grave mesmo e, como tenho dito
aqui, não por causa do mundo, mas por erros cometidos internamente.
Tudo
o que envolve o abaixo-assinado contra o Banco Central é fato inédito. Mesmo em
um governo que tem o hábito de culpar o mensageiro pelos alertas sobre os
riscos que o país enfrenta, o Banco Central se mantinha como um oásis de
sensatez, local que preferia usar os argumentos para convencer seus críticos.
Mas, no caso do economista Alexandre Schwartsmann, a decisão foi de entrar na
Justiça contra o crítico.
Entre
os que protestaram contra a atitude do BC estão desde ex-presidentes do órgão
em governos diferentes, até economistas que ocuparam cargos na diretoria em
períodos em que o PT já dirigia o país. Ontem, após a pressão, o BC desistiu de
recorrer da ação.
A
maneira como foi conduzido o episódio do lay-off do ministro da Fazenda acabou
se transformando em um movimento com dois resultados negativos. Primeiro, o
país, numa situação difícil, tem agora um ministro completamente desacreditado
no cargo.
Ele
ficará lá contando o tempo para sair e ainda faltam quase quatro meses para o
fim do mandato. Segundo, a vantagem que se teria com a mudança no Ministério da
Fazenda, que é infundir confiança de que os erros da política econômica seriam
corrigidos, foi anulada quando a presidente Dilma disse que Guido Mantega só
sairá porque quer.
Ou
seja, não é um movimento que indica que num segundo mandato — se eventualmente
ela o receber das urnas — haja uma correção de rumos. E o país precisa é dessa
correção, antes que seja tarde.
O
alerta de ontem da Moody’s foi um movimento menos eloquente do que o feito pela
Standard & Poor’s em março. A S&P rebaixou a nota do Brasil alertando
que estava acontecendo o que os meses seguintes confirmaram: baixo crescimento
e deterioração fiscal.
A
Moody’s, que na época manteve a perspectiva, agora a trocou para negativa. Não
é um rebaixamento, mas um aviso de que pode vir a tomar essa decisão. Seja como
for, uma agência rebaixou a nota e a outra disse que pode fazê-lo.
Por menos
que gostemos das classificadoras de riscos — e por mais que saibamos dos erros
que elas cometeram — a alocação de recursos dos grandes fundos de investimento
são determinados por essas notas; e o custo dos empréstimos dos entes públicos
e privados do Brasil também é determinado pela nota. Pela S&P, o Brasil
está apenas um degrau acima da linha que separa o grau de investimento do grau
especulativo.
Parte
da reação da economia virá se melhorar o grau de confiança em que os problemas
serão enfrentados e superados. Por isso, o eleito este ano, mesmo sendo a atual
presidente, deve usar bem a força das urnas. Elas dão à pessoa eleita, mesmo
que já esteja no poder, a chance de aproveitar a lua de mel e anunciar medidas
que recuperem a confiança.
Quem
mais precisa convencer que mudará é sempre quem já está no poder, por isso a
presidente Dilma desperdiçou uma bala na agulha quando avisou, na hora errada,
que tiraria o ministro e, dias depois, para se corrigir, disse que ele só sai
porque quer. O que se quer é que o país saia da situação de estagnação com
inflação alta, piora do quadro fiscal e déficit em transações correntes.
Levar
a atual política às “últimas consequências”, como o ministro Mantega disse que
a presidente Dilma fará, não é promessa. É ameaça.