Brasília - O presidente nacional do PSDB, senador
Aécio Neves (MG), lamentou a não cassação do mandato do deputado federal Natan
Donadon (Sem partido-RO).
O deputado, condenado pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) por desvio de recursos públicos, cumpre pena no
presídio da Papuda, em Brasília.
“O voto do eleitor, este
sim, deve ser secreto. Para preservar a liberdade do eleitor de fazer opções,
sem qualquer tipo de coação. Mas ontem [quarta-feira, 28], vimos a demonstração
cabal e definitiva de que o voto para este tipo de decisão tinha de ter sido
aberto”, disse o tucano, em entrevista coletiva, nesta quinta-feira (29).
O pedido de cassação de
Donadon foi a plenário na noite desta quarta-feira. Não alcançou o mínimo de
257 votos: recebeu aprovação de apenas 233 parlamentares.
Na entrevista, Aécio Neves
também abordou outros temas, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e
orçamento, orçamento impositivo e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES).
Confira os principais pontos
da entrevista coletiva do senador Aécio Neves:
Sobre LDO e Orçamento
O orçamento no Brasil tem
virado uma peça de ficção. O governo não cumpre o orçamento. Temos dois
orçamentos paralelos no Brasil hoje. Um dos restos a pagar, que é, na verdade,
um desrespeito do Poder Executivo àquilo que o Congresso determina.
Na verdade, o Congresso existe, os parlamentos ao redor do mundo existem fundamentalmente para discutir e aprovar o orçamento.
No Brasil, o poder do governo federal, portanto, da União, vem sendo tão avassalador que há um desrespeito crônico e permanente a tudo que é aprovado aqui, reproduzido nos restos a pagar. Inclusive, com diminuição dos investimentos na saúde, por exemplo.
Na verdade, o Congresso existe, os parlamentos ao redor do mundo existem fundamentalmente para discutir e aprovar o orçamento.
No Brasil, o poder do governo federal, portanto, da União, vem sendo tão avassalador que há um desrespeito crônico e permanente a tudo que é aprovado aqui, reproduzido nos restos a pagar. Inclusive, com diminuição dos investimentos na saúde, por exemplo.
E existe, tenho alertado
para isso, um outro orçamento que é feito através do BNDES, que é uma grande
caixa-preta que ninguém sabe exatamente a que serve, feito pelo governo federal
às custas de endividamento do Tesouro, que aporta recursos no BNDES, que
empresta de forma subsidiada para empresas mais próximas. É preciso que
aprofundemos essa discussão aqui no Congresso.
A LDO, as diretrizes do
orçamento, e a própria lei orçamentária têm que passar a ser respeitadas pelo
Executivo. Mas isso só vai acontecer quando o Congresso Nacional deixar de
estar curvado às vontades do Poder Executivo, quando readquirirmos as nossas
prerrogativas. Quando defendermos as nossas prerrogativas.
Digo sempre que defender as prerrogativas não é uma opção nossa, é um dever. Somos eleitos para isso.
Digo sempre que defender as prerrogativas não é uma opção nossa, é um dever. Somos eleitos para isso.
Infelizmente, o que vejo no
Brasil é um Congresso Nacional, através da maioria governista, cada vez mais
curvado às vontades do Poder Executivo. Lamentavelmente, vamos votar agora uma
LDO e depois um orçamento que mais uma vez vai ser ignorado pelo poder central.
Seria um orçamento
impositivo para tudo, não só para as emendas?
Acho que o orçamento
impositivo em relação às emendas, desde que direcionado para determinados
setores, para não contrariar muito aquilo que a Lei de Diretrizes Orçamentárias
prevê, é um avanço.
Estamos sendo levados à discussão do orçamento impositivo porque o governo federal não cumpre o orçamento. Tivesse havido ao longo do tempo um respeito maior àquilo que se aprova no Congresso Nacional, sequer essa discussão do orçamento impositivo estaria ocorrendo.
Estamos sendo levados à discussão do orçamento impositivo porque o governo federal não cumpre o orçamento. Tivesse havido ao longo do tempo um respeito maior àquilo que se aprova no Congresso Nacional, sequer essa discussão do orçamento impositivo estaria ocorrendo.
Hoje, o Poder Executivo
formula suas políticas, manda uma peça de ficção para o Senado, que produz uma
outra peça de ficção, muitas vezes sem compromisso inclusive com receitas que
venham a garantir a execução dos programas e o governo se vê no direito de
ignorá-las sem qualquer contestação formal da maioria governista.
A democracia pressupõe o equilíbrio entre os poderes, mas para isso é preciso que os poderes sejam altivos e independentes. Infelizmente, o Parlamento não tem sido nem altivo nem independente.
A democracia pressupõe o equilíbrio entre os poderes, mas para isso é preciso que os poderes sejam altivos e independentes. Infelizmente, o Parlamento não tem sido nem altivo nem independente.
Sobre a não cassação do deputado Natan Donadon
Absolutamente lamentável a
posição da Câmara dos Deputados. O PSDB teve uma posição clara, como partido, a
favor não apenas da condenação, porque eu não conheço nem o mérito do processo,
mas cabe ao Poder Legislativo cumprir a decisão em última instância do Poder
Judiciário. É uma demonstração de que, urgentemente, precisamos ter o voto
aberto para cassação de mandatos.
O voto do eleitor, este sim,
deve ser secreto. Para preservar a liberdade do eleitor de fazer opções sem
qualquer tipo de coação. Mas ontem, vimos a demonstração cabal e definitiva de
que o voto para este tipo de decisão tinha de ter sido aberto.
Lamento profundamente a
decisão da Câmara porque, a meu ver, e falo isso inclusive como parlamentar de
muitos anos, como presidente da Câmara dos Deputados no passado, é um
desrespeito à população brasileira. É incompatível você ter alguém exercendo o
mandato parlamentar e, ao mesmo tempo, estar condenado sem mais possibilidade
de recurso pela Corte Suprema.
Lamentei profundamente e
acho que foi um dia triste para o Congresso Nacional. A posição do meu partido,
o PSDB, foi pelo respeito à decisão do Supremo Tribunal Federal e continuará
ser em todas as outras decisões do gênero.