O
presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva
nesta quarta-feira (14), após XVII Marcha dos Prefeitos (foto), em Brasília.
Ele respondeu a perguntas sobre o novo pacto federativo, a compensação
financeira aos municípios, as manifestações das ruas, o programa do PT, a
inflação e o controle de tarifas.
Abaixo a entrevista do
senador.
Sobre demandas dos
prefeitos.
Existem
algumas questões muito pontuais que sempre foram relegadas a um segundo plano
pelo atual governo. Mesmo algumas que foram acordadas pelo governo no Congresso
Nacional, essa diz mais respeito aos estados, mas faz parte da agenda
federativa, como a renegociação da dívida, foi abandonada mesmo tendo o governo
firmado acordo.
Temos
que acabar com a tributação entre entes federativos. O Pasep é hoje uma
tributação de 1% das receitas entre estados e municípios e a União. Isso tem
que acabar e desafoga, obviamente, os municípios.
Tenho
pedido apoio de todos os partidos da base e da oposição para proposta que
tramita desde fevereiro de 2011, quando me elegi senador da República, a
primeira proposta que apresentei no Congresso Nacional, já percebendo o que
estava por vir, aquela que garante que feitas as desonerações pelo governo
federal, no exercício seguinte, a parcela dos municípios, o Fundo de
Participação dos Municípios, de IPI e Imposto de Renda seja devolvida aos
estados e municípios.
Você
não pode permitir que um município que planeje seu orçamento com determinados
investimentos, ao longo do exercício, por uma ação unilateral, sem qualquer
discussão com estados e municípios, em especial, veja parte de sua receita
extinta pela desoneração que o governo federal fez.
Quero
deixar muito claro que as desonerações são um instrumento que o poder central
pode ter para situações sazonais, cíclicas, conjunturais. Mas o governo só
deve, na minha avaliação, e esse é o teor da minha proposta, fazer essas
desonerações na parcela da arrecadação que lhe compete.
E
temos que ter a visão federativa na gestão pública. O governo atual concentra
para poder distribuir favores. O que defendemos é desconcentrar para o país
ganhar. Tenho defendido no Congresso propostas no campo da saúde, da educação,
que gradualmente melhorem o financiamento, mas qualificar o gasto público – e
isso eu conheço, fiz isso em Minas Gerais – é essencial.
Não se justifica que
de R$ 83 bilhões da rubrica de saúde do ano passado R$ 10 bilhões tenham sido
simplesmente transformados em restos a pagar e sabe-se lá quando isso vai ser
aplicado na saúde.
O
recurso já é pouco e aplica-se menos ainda do que aquilo que a legislação define.
Qualificar o gasto público é essencial para os estados e principalmente para os
municípios brasileiros. E buscar um acordo de contas na questão previdenciária.
Sobre
PEC da senadora Ana Amélia (PP-RS) que prevê aumento no repasse do Fundo de
Participação de Municípios. Defendo
a aprovação da PEC da senadora Ana Amélia há muito tempo. E obviamente,
aprovada essa PEC, vamos definir a sua implementação. Mas ela sinaliza na
direção correta de resgatar pelo menos parcela das receitas perdidas para a
União.
Não
apenas a PEC, mas defendemos um pacto onde qualquer nova despesa, qualquer nova
responsabilidade que tenham que assumir os municípios brasileiros, isso passe
por um fórum, uma câmara que hoje existe no papel, existe a partir dos
protocolos firmados, mas não existe na prática, não funciona.
Não
se pode autorizar nenhum novo gasto, nenhuma nova despesa para os municípios,
sem que haja correspondência financeira para arcar com essas novas despesas.
Quase como criar uma Lei de Responsabilidade Fiscal para a União.
Sobre rito de medidas
provisórias.
Fui
relator de proposta que muda o rito de tramitação das medidas provisórias. A
medida provisória é um instrumento necessário ao sistema presidencialista
brasileiro, mas ela tem que ser a exceção nas relações parlamentares, ou na
relação legislativa do governo com o Congresso.
Hoje
ela é a regra. Na nossa proposta, a medida provisória só poder tratar de um
tema determinado. Você não pode utilizar uma medida provisória sobre
determinado assunto para incluir ali, quase como se fosse um balaio de gatos,
às vezes, dezenas de temas absolutamente sem vinculação ao tema original.
Estão
aqui vários parlamentares que sabem exatamente do que estou falando. O que se
estabeleceu na relação Poder Executivo e Congresso Nacional? Não vale a pena o
congressista cumprir o seu mandato apresentando projetos de lei, discutindo
esses projetos de lei.
Os
congressistas, a verdade é essa, especializam-se em pegar carona nas medidas
provisórias, porque só elas vão a voto. Isso tem um lado perverso de contaminar
as relações políticas. Não há mais discussão nas comissões de projetos de lei
ordinários, projetos de lei complementar. É raro. A regra são as medidas
provisórias.
Partidos políticos.
A
grande verdade é que temos que estabelecer uma nova relação política, não pode
ser essa relação mercantilista que hoje rege a política brasileira. Defenderei,
durante a discussão eleitoral, o retorno da cláusula de desempenho.
Você
pode criar partidos políticos, ter o registro civil, com as assinaturas
alcançadas, mas o direito a fundo partidário e a tempo de televisão devem ter
aqueles partidos que tenham correspondência na sociedade, que sejam partidos de
verdade, que representam segmentos de pensamento.
Para
isso tem que haver um corte, quando aprovamos isso lá atrás, o Supremo
derrubou. O corte era de 5% [de votos] da Câmara, divididos em pelo menos nove
estados, com pelo menos 3% em cada um desses estados. O corte pode até ser um
pouco menor, mas é necessário que voltemos a ter partidos que liderem as
negociações políticas. Porque hoje elas são feitas quase que individualmente,
são grupos de interesse que hoje negociam a pauta do Congresso Nacional. E aí
pergunto o que para mim é uma questão sem resposta.
Para
que este governo trabalha para ter uma base tão ampla como tem hoje, talvez
nunca antes na história do país, tenhamos uma base tão grande, e sem proposta
nenhuma para votar. Esta base só tem servido para uma coisa, ocupar os espaços
de governo.
Dividir
diretorias de bancos e empresas estatais, ocupar ministérios. Não há um
amálgama nessa base, não há um projeto no campo federativo, estamos aqui no
tema da Federação, no campo tributário e mesmo na reforma política.
Cria-se
uma base enorme com um custo estrondoso, estão aí 39 ministérios, ocupa-se e
desmoralizam-se as agências reguladoras, instrumento de estado fundamental em
defesa do cidadão para acompanhar a qualidade dos serviços públicos e não tem
nada de estruturante para ser votado.
O
governo gasta muito com uma base que não oferece nada ao país. Temos de
inverter esta lógica e estabelecer uma relação de melhor nível para que
possamos ter um projeto de país, substituindo o projeto de poder que hoje nos
conduz.
Sobre novas manifestações
das ruas.
Todos
estamos acompanhando esses movimentos que já começam a se organizar. A grande
verdade é que não são movimentos, e vou ser muito claro, apenas contra este ou
aquele governante. É um movimento de insatisfação da sociedade com a baixa
qualidade dos serviços públicos e com a não entrega daquilo que é prometido.
O
fato concreto que pode preocupar o governo é de que todas aquelas promessas e
aqueles compromissos assumidos, em junho do ano passado, quando essas
manifestações tomaram as ruas do Brasil, absolutamente nenhum deles foi
cumprido.
A
segurança não melhorou, o transporte público continua de péssima qualidade, a
saúde é uma tragédia. E algo que estava a permear e a emoldurar todas as
manifestações que era a questão ética, a questão moral, o respeito ao dinheiro
público. Aí então o governo descambou ao longo dos últimos anos porque hoje, a
cada dia que você abre os jornais, vê uma nova denúncia de mau uso do dinheiro
público. Vamos acompanhar.
Obviamente
não deve ser tolerada a violência, a depredação do patrimônio público, o
atentado contra a vida. É incompatível uma coisa com a outra. Acho até que os
movimentos violentos tendem a vitimizar, em primeiro lugar, os manifestantes,
que legitimamente têm que ter espaço para ir às ruas defender as suas ideias,
bradarem contra o que quer que seja. São duas coisas que, a meu ver, se
distinguem.
É
preciso sim que haja a coibição da violência, da depredação do patrimônio, mas
que as forças de segurança estejam amadurecidas, até porque aprenderam muito
nas últimas manifestações, para separar uma coisa da outra e garantir segurança
a quem queira pacificamente se manifestar.
Sobre o programa de
televisão do PT.
Achei
absolutamente inusitado um governo que chega a praticamente 12 anos, concluindo
um ciclo longo como este, só tenha a oferecer à sociedade brasileira o medo. É
um governo que deixou de gerar esperança nas pessoas. É algo impensável há
algum tempo atrás.
Acho
que esta propaganda do PT, que, confesso, me surpreendeu pelo seu negativismo a
cinco meses da eleição eles abdicaram de apresentar qualquer proposta nova para
o Brasil, até porque ninguém acredita mais em propostas desse governo. Mas eu
resumiria como um atestado definitivo de fracasso de um governo que vive seus
estertores e caminha para o seu final.
Sobre o futuro do país
Tenho
muita expectativa de que uma vitória do PSDB e do conjunto de aliados gerará,
ao contrário do que acontecerá se houver uma vitória desse grupo político que
aí está, um ambiente de maior confiança. E esse ambiente de confiança será
muito importante para corrigirmos, sempre preocupados com a sociedade e com o
cidadão mais pobre, os equívocos da atual política econômica, Repito, não há
nada mais perverso para com a população de mais baixa renda, do que o imposto
inflacionário, que nós, do PSDB, acabamos, que nós, do PSDB, corrigimos lá
atrás, acabamos com ele.
E
infelizmente, no momento em que deveríamos estar debatendo a agenda da
competitividade, da produtividade, da inserção do Brasil e das empresas
brasileiras nas cadeias globais, estamos novamente debatendo inflação,
congelamento de preços.
Fonte:
Portal PSDB