Como
principal candidato das oposições, segundo as pesquisas, o presidente nacional
do PSDB, senador Aécio Neves, acredita que o favoritismo da presidente Dilma
ficará abalado assim que começar o horário eleitoral gratuito. O monólogo terá
fim e, na defensiva, a presidente terá que responder às críticas, com isso, o
PSDB vai avançar.
“No
segundo turno, os favoritos somos nós, e não o governo”, diz Aécio, que será o
primeiro palestrante do ano, no dia 14 de fevereiro, no Conexão Empresarial,
evento promovido pela VB Comunicação. Conhecido pela sua habilidade em
transitar tanto no campo adversário quanto entre os aliados do governo, ele já
se articula para formar uma forte aliança em torno do seu projeto de governo e
para fortalecer os palanques nos estados.
Guiado pelas muitas pesquisas que
analisam o comportamento do eleitorado, entende que há um forte sentimento de
mudança, observado nas manifestações de rua que surpreenderam pelo caráter
suprapartidário, que não foi entendido pelo governo. “Os movimentos das ruas
rasgaram a fantasia do PT”.
Com
palavras de ordem como tolerância zero para a inflação e herança maldita da
administração petista, Aécio pretende tornar-se candidato oficial do PSDB em
solo paulista, em março. “Quem sabe, após 60 anos, Minas tenha um presidente da
República eleito pelo voto.”
Há algum simbolismo na
escolha de São Paulo para o lançamento da sua candidatura à Presidência?
Foi
um convite da direção do PSDB de São Paulo, feito pelo presidente Duarte
Nogueira, que considera que seria um gesto de reciprocidade, já que a campanha
de Geraldo Alckmin, quando se candidatou em 2006, foi lançada em Belo
Horizonte. Essa é a primeira eleição, desde a redemocratização, em que o PSDB
não terá um candidato de origem paulista e por ser o maior colégio eleitoral do
Brasil.
A estratégia é a de
concentrar as ações em São Paulo e estados do Nordeste?
Não
há como você ter prioridades em uma caminhada como essa. Em primeiro lugar, não
sou ainda o candidato do partido. A ideia é a de que essa definição ocorra até
o final de março. Mas, mesmo antes disso, como presidente nacional do PSDB,
estive, desde julho do ano passado, em mais de 20 estados, de todas as regiões,
realizando encontros extremamente densos e discutindo as bases do nosso
programa de governo, política ambiental na Amazônia, políticas regionais no
Nordeste, questões do agronegócio no Sul e no Centro-Oeste.
Inúmeros
encontros em São Paulo, com foco na preocupação com a desindustrialização. Não
é um processo que se inicia agora. O que vamos fazer a partir de fevereiro é
retomar a agenda de viagens, caminhando pelo Brasil inteiro. Pretendo
intercalar essas visitas a outros estados com (visitas) a várias regiões de
Minas.
Marina Silva virou um
problema para o senhor na negociação com o PSB em alguns estados, inclusive em
Minas?
Não,
de forma alguma. Acho que a presença da Marina na disputa, ao lado do Eduardo
Campos, é saudável. A Marina traz temas importantes para o debate eleitoral,
oxigena essa disputa. Da mesma forma, o Eduardo. Quem tentou, como pôde, inibir
outras candidaturas foi o PT.
Seja
do ponto de vista congressual, quando atuou para impedir a criação do partido
da Marina, seja do político, quando tentou inviabilizar a candidatura de
Eduardo através da cooptação de seus aliados, e acabou levando alguns deles,
como é o caso do Ceará. Mas nós achamos que era importante que outras forças
políticas participassem do processo eleitoral.
O
PSDB nunca temeu essa participação. Ao contrário, a minha expectativa é de que,
no momento em que forças políticas que militavam no governo, como é o caso da
Marina e do próprio Eduardo, que foi ministro do Lula, passam a militar no
campo da oposição, isso tem que ser saudado por nós como algo extremamente
positivo.
Mas
eu tenho confiança plena de que o PSDB, pela clareza do seu discurso, pela
estrutura que tem em todo o Brasil, pela força das suas lideranças, é quem
representará a mudança de verdade, pela qual quase 70% da população brasileira
clama.
Estou
extremamente confiante em que o PSDB tem todas as condições de chegar ao
segundo turno e, aí, o jogo se inverte, os favoritos somos nós, e não o
governo.
O senhor sempre reclamou,
nas eleições passadas, de que o PSDB precisava de um projeto claro de governo.
Já tem claro o que é preciso fazer?
Nós
fizemos, no final do ano passado, no dia 13 de dezembro, o lançamento das
diretrizes básicas desse projeto, que foi fruto de tudo aquilo que nós buscamos
ou nós elegemos nesses debates, seminários e encontros regionais, e que serão a
base da construção do nosso plano de governo.
Ele
será coordenado pelo governador Anastasia, a partir do final do mês de março,
quando ele deve deixar o governo do estado, no prazo final de
desincompatibilização.
Quais são elas?
Passa
por questões que, para nós, sempre foram muito claras. A eficiência da gestão
pública para combater a crônica deficiência do atual governo do PT. A
meritocracia como antítese a esse aparelhamento perverso e absurdo da máquina
pública feita pelo PT.
Uma
visão de mundo muito mais atual e pragmática do que essa atrasada visão
ideológica do Brasil, que tem nos levado a alianças que em nada têm ampliado os
nossos mercados e contribuído para o crescimento da economia.
Uma visão muito mais solidária de estados e
municípios para nos contrapormos a esse centralismo absurdo do governo federal,
que vem transformando o Brasil não mais em uma Federação, mas em um estado
unitário, com estados e municípios cada vez mais dependentes da União. Uma ação
firme e decisiva na coordenação de política de segurança nacional para nos
contrapormos à absoluta omissão do governo federal nessa questão, inclusive com
um esforço maior no financiamento da segurança pública.
Hoje,
87% de tudo o que se gasta em segurança vêm dos estados e dos municípios e
apenas 13% da União. O Fundo Penitenciário, aprovado no Congresso, nos últimos
3 anos de governo da atual presidente, teve apenas 10,5% do seu valor
executado, o que mostra o descaso e a omissão nessa questão.
Em
relação à saúde, houve, durante um período do governo do PT, queda de 54% de
participação do governo federal no total de financiamento da saúde para apenas
45% hoje, o que mostra, também, nessa gravíssima questão, a grande omissão do
governo federal.
Nós
temos que resgatar a Federação no Brasil, estabelecermos a meritocracia e, no
campo econômico, uma política fiscal transparente, que resgate a credibilidade
perdida do Brasil, com tolerância zero à inflação, e que nos permita crescer de
forma mais sustentável para sairmos do final da fila.
O
Brasil cresceu no ano passado apenas mais do que a Venezuela, na América do
Sul. A equação econômica do governo que a presidente Dilma nos deixará, essa
sim uma herança maldita, se resume em crescimento pífio, inflação alta e
maquiagem dos dados fiscais, que tem como consequência a enorme perda de
credibilidade do Brasil.
O governo tem conseguido
se manter bem perante a opinião pública, mesmo com esses indicativos que o
senhor está citando. Parece que nada atinge o governo do PT?
Ao
contrário. Aparece em todas as pesquisas um dado que é relevante. Dois terços
da população querem mudanças profundas. Só que o que existe hoje é quase um
monólogo. Hoje os grandes veículos de comunicação de massa não falam no
governo, falam na presidente apenas. Isso não permanecerá durante o processo
eleitoral. Portanto, estou convencido de que o governo terá que fazer uma
campanha na defensiva.
A
inflação já é, sim, um problema para boa parte das famílias brasileiras.
Estamos com a inflação no teto da meta, existindo há muitos anos. Isso porque
nós temos preços controlados de combustíveis, de energia e de transportes
públicos. Na hora em que destampar a tampa dessa panela, vamos ter a inflação
média chegando a em torno de 9%.
A
cesta básica nos últimos 12 meses, em 16 capitais pesquisadas, está acima de
10%. Em Salvador, chega a 17%. Uma inflação na vida cotidiana das pessoas,
porque o governo geriu mal a economia, flexibilizou os pressupostos básicos dos
pilares fundamentais que foram herdados do governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso.
A eleição deste ano terá componentes
diferentes motivados pelos protestos. O senhor entendeu o recado das ruas?
É um recado claro para toda a classe política. A
população está cansada da ineficiência dos serviços, do desleixo com o dinheiro
público, das sucessivas denúncias de corrupção.
Ela clama por valores, por novas oportunidades. As
respostas que o governo federal buscou dar, com uma agenda absolutamente
descolada da realidade do Brasil e desse sentimento das pessoas, como a pífia
reforma política, que foi a mais eloquente delas, não respondeu em
absolutamente a essas expectativas.
Nós não trabalhamos esses eventos como um ativo
eleitoral. Se ocorrerem, os governantes, todos eles, têm que estar prontos para
dar as respostas. Mas é algo que nós, democratas, temos que compreender. As
pessoas hoje estão inquietas, insatisfeitas com o que está acontecendo.
Agora, o governo federal, que vendeu aos
brasileiros um nirvana, um país onde só existiam virtudes, que não tinha
problemas, que superou a miséria, que tem suas empresas públicas geridas com a
maior eficiência, esse país da fantasia se desfez. Esses movimentos rasgaram a
fantasia do PT.
Que alianças o senhor vai buscar
nessas eleições? O PMDB, por exemplo, demonstra insatisfação com o governo.
Essas alianças são consequência da capacidade que
você tenha ou não de apresentar um projeto viável. A nossa preocupação neste
momento é apresentar ao Brasil um projeto exequível, que recomponha a
credibilidade da nossa economia e aponte para cenário de crescimento
sustentável por um bom período.
As alianças são consequência disso. O que posso
antecipar é que cada estado é uma realidade, e nós teremos, certamente, apoios
em vários deles, de forças políticas, mesmo estando em nível nacional, de
alguma forma, alinhadas a este governismo de cooptação, porque não tem nada de
coalisão, tem é de cooptação através de cargos públicos. Mas não se consegue
cooptar todos.
O senhor acha que vai ser possível se
aliar ao PSB em Minas Gerais? Existe a possibilidade de palanque duplo?
O PSB é aliado do PSDB em muitos estados, inclusive
em Minas, desde o meu primeiro mandato. Essa é uma aliança absolutamente
natural, e eu acredito que ela possa ser mantida, sim, como será em outros
estados.
Tenho conversado com o governador Eduardo Campos, e
o nosso entendimento é o de que vamos deixar que as situações regionais, locais
caminhem sem qualquer intervenção nossa.
O que eu percebo é que o PSB terá, em muitos
estados, alianças com o PSDB e pouquíssimas com o PT, o que é uma sinalização
importante em relação ao segundo turno.
A eleição terá um capítulo à parte na
internet. O PT está lançando, inclusive, cartilha para a militância e o PSDB,
como vai trabalhar com as mídias sociais?
O PT sempre utilizou a internet para fazer uma
guerrilha que foge aos padrões éticos que deveriam orientar a disputa política
e vai continuar nesse mesmo caminho, não é nenhuma novidade. Agora talvez mais,
com financiamento maior e parte até com financiamento público, já estão
montando um verdadeiro exército na internet. Obviamente, nós temos que estar
atuando.
Vamos usar a internet para difundir ideias, debater
o nosso programa, mobilizar as nossas forças. O PT costuma usar a internet para
fazer, como fez recentemente com o Eduardo Campos, como faz permanentemente em
relação aos seus opositores, o jogo da calúnia, da difamação, da desconstrução.
Mas eu acredito muito no bom senso das pessoas.
Se não acreditasse, não estaria na política. Esse
esforço hercúleo que é feito na internet, da difamação permanente, acaba tendo
um resultado absolutamente inócuo. As pessoas têm capacidade de discernir o que
é certo e o que é errado.
A atuação do senhor na televisão
também pode fazer a diferença?
A nossa campanha será a da verdade. A presidente da
República fará uma campanha na defensiva porque falharam na condução da
economia. Falharam na gestão do estado, porque o Brasil é hoje um grande
cemitério de obras inacabadas.
Demonizaram por mais de 10 anos as concessões e as
fazem agora de forma açodada, envergonhada e com absoluta falta de
planejamento. Mesmo no campo social, onde se apregoam os grandes construtores
de uma nova realidade no Brasil, os efeitos são muito limitados, daquelas
antigas ações, na verdade, herdadas do governo do presidente Fernando Henrique.
Não houve nada novo. A saúde é trágica para grande
parte da população. A segurança pública aflige brasileiros de todas as regiões,
de todas as classes sociais. Na educação, também estamos no final da fila nos
principais institutos de avaliação internacionais. No caso especificamente de
Minas, a presidente tem muitas explicações a dar, porque o estado foi
absolutamente preterido ao longo desses 12 anos de governo do PT.
Como?
Seja em relação a investimentos programados, seja
pelo setor automotivo que foram para outros estados. O metrô não terá no
governo da presidente Dilma um centímetro sequer de expansão. Nas prometidas
obras da BR–381, o governo apresenta um programa que atende a apenas 25%%. O
Anel Rodoviário prometido lá atrás, ainda pelo presidente Lula, foi transferido
para o estado devido à incapacidade do governo.
O senhor já definiu quem vai ser o
marqueteiro?
Nós não temos o candidato ainda, só depois de
março. O que posso adiantar é que nós não teremos, aí, um marqueteiro, um
salvador da pátria, como o PT. O marqueteiro do PT tem status de
primeiro-ministro de estado. Se ele ligar para o ministro da Fazenda, é
atendido no primeiro toque, tamanha a importância dele para o atual governo.
Mas por que isso? Porque é o governo do marketing.
Tem poucos resultados a apresentar e precisa privilegiar o marketing. Nós
teremos pessoas competentes na área de comunicação, que nos permitam difundir
nossas ideias, dar a elas visibilidade.
Acredita que essa será uma campanha
cara, mas também difícil para se arrecadar recursos devido às denúncias de
corrupção e caixa 2?
Para o governo, certamente não será
difícil, já que o PT, ao longo dos últimos anos, não tem tido qualquer
dificuldade para se financiar, haja vista a movimentação não só dos candidatos
majoritários, mas os parlamentares do PT em Minas.
Nós vamos ter o apoio daqueles que
querem mudar o Brasil. Eu tenho muita confiança, mas não sei dimensionar quanto
custa uma campanha presidencial. Mas vamos fazer uma campanha dentro da lei,
oficialmente, como sempre fizemos em Minas. Nós vamos contar com financiamentos
também dos cidadãos brasileiros.
O mensalão mineiro pode atrapalhar o
senhor?
A mim, de forma alguma, porque não
tenho com ele qualquer vinculação. O que eu sempre digo em relação a essas
denúncias e acho até com um nome inadequado, porque mensalão pressupõe
pagamentos mensais e, ali, há denúncia em relação à parte do financiamento do
ex-governador Eduardo Azeredo, que sequer venceu as eleições. Mas o que eu
defendo é que todas as denúncias sejam investigadas e que possamos dar a ele o
direito à defesa.
Como o senhor está se sentindo com a
notícia que será pai de novo?
Muito feliz. Esse é o lado bom. Eu
sou alguém de bem com a vida. Estou na política porque acredito na
transformação da sociedade. Mas ela não é toda a minha vida. Diferentemente de
alguns que estão na política para ascender socialmente ou a tem como único
objetivo de suas vidas e, aí, quando perdem, se frustram.
Eu vou cumprir o meu papel. Se couber
a mim a responsabilidade de conduzir essa candidatura, vou fazê-la inspirado na
minha história pessoal, nos mineiros e, quem sabe, depois de 60 anos, Minas
tenha um presidente da República eleito pelo voto.