Artigo do senador Aécio Neves
A inflação em alta superou o centro da meta e as projeções
indicam que tende a crescer ainda mais. Os investimentos continuam em queda
livre.
Os dois primeiros anos do atual governo foram períodos
perdidos para a economia, para o país e para a sociedade brasileira -os
resultados de 2012 conseguem ser ainda piores que os de 2011, quando o PIB
registrou medíocre crescimento de 2,7%.
Foi um período de desperdício da capacidade de crescimento do
Brasil e de explícita inoperância dos sucessivos "pacotes" anunciados
com estardalhaço. Desnuda, ainda, a manipulação das autoridades econômicas de
tentar vender à sociedade um ambiente de otimismo, que, agora, se confirma
fantasioso. O governo federal começou o ano prometendo crescimento de 4% para o PIB.
O mundo real mostra que o Brasil crescerá bem menos que os
emergentes -Rússia (2,9%), China (7,4%) e Índia (5,3%)-, ficando, ainda, abaixo
da média da América do Sul (2,7%) e a um terço da média da América Latina e do
Caribe (3,1%), só à frente do Paraguai.
O contraditório é que, mesmo assim, a máquina governamental
bate novos recordes de arrecadação. Essa exuberância fiscal pouco tem
contribuído para reverter a agenda negativa ou mesmo reabilitar os entes
federados, à beira da insolvência em face da grave concentração de recursos e
de poder em Brasília.
Está claro que não dá mais para responsabilizar as crises
externas por tudo o que acontece no país. É uma terceirização que visa absolver
os que vêm adotando uma sucessão de medidas equivocadas.
É hora de retomar as reformas iniciadas sob o governo
Fernando Henrique Cardoso e paralisadas pelo petismo na última década.
Não se compreende por que o governo não coloca a serviço do
país a ampla maioria que possui no Congresso Nacional e os índices de aprovação
indicados pelas pesquisas, que poderiam criar as bases políticas necessárias
para viabilizar as grandes mudanças que o Brasil precisa.
Já disse antes que popularidade é como colesterol: tem a boa
e a ruim. A boa é aquela que é usada como instrumento para a superação de
desafios que sufocam o país. A ruim é aquela que inebria, que faz seus
detentores, na expectativa de mantê-la indefinidamente, acomodarem-se, evitando
qualquer tipo de contencioso, e que acaba custando caro aos brasileiros.
Uma transforma, a outra paralisa. Uma serve à pátria. A
outra, ao poder.