Jornalista e Colunista do Jornal Hoje em Dia, Carlos Lindenberg.
Dia 18 de março de 2009.
Email: ColunaCL@hojeemdia.com.br
ARTIGO:
O governador Aécio Neves deve conduzir com muita habilidade daqui por diante os entendimentos dentro do PSDB em busca das sonhadas prévias. Parece chover no molhado quando se fala assim, mas a verdade é que depois do encontro de Aécio e Serra, em Recife, segunda-feira, o governador mineiro não pode deixar que se fale em qualquer tipo de acordo, como disse ontem o deputado federal Eduardo Gomes ao sair de uma audiência com Aécio. Ora, que acordo conviria a Minas se não a disputa pela Presidência da República? Ou não é isso que o governador mineiro vem pregando há meses?
A essa altura, já com a tese das prévias praticamente assimilada pelas hostes serristas, até porque elas também lhes convêm, não há mais como falar em acordo, entendimento, consenso ou o que seja. O episódio de Recife deveria ser mais um dado para a análise dos tucanos mineiros. O lançamento do livro do ex-deputado Fernando Lyra - “Daquilo que eu sei”-, em que o ex-ministro de José Sarney fala dos bastidores da candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República, tinha tudo para ser uma festa mineira, em território pernambucano. Serra, no entanto, fez de tudo para dividir o palanque com Aécio e acabou roubando a cena na mídia nacional, que dá mais espaço ao governador de São Paulo do que ao mineiro.
Donde se vê que Serra jamais abrirá qualquer espaço para entendimento com Aécio. É o jeitão Serra de fazer política, como pode testemunhar a senadora Roseana Sarney, cuja candidatura à Presidência da República em 2002 foi a pique depois uma ação ligada ao grupo do governador paulista. Ademais, não há porque se falar em acordo agora. As prévias estão em gestação. Não há razão para que elas não sejam realizadas, de forma que a única coisa a se fazer agora é concretizá-las e ponto final. Até porque, pensando bem, as prévias são boas até para ajudar José Serra a encontrar uma saída para Aécio, caso não seja ele o escolhido pelos tucanos para disputar a Presidência da República.
Senão, vejamos. Se disputar as prévias e perdê-las, o que Aécio poderá reclamar? Nada. Terá que enfiar a viola no saco e disputar o Senado, não tendo nem mesmo como deixar de apoiar o candidato vencedor, no caso, José Serra. Já se Aécio ganhar, ganhou, o que se haverá de fazer? Nada. Os paulistas terão que fechar com Aécio, a menos que esqueçam o horror que têm de Lula e do PT para apoiarem Dilma Rousseff. Ou há um outro cenário? Não, certamente não. A menos que Aécio se deixe enganar pelo apelo do consenso, da unidade partidária e outras coisas. O que não parece ser o estilo Aécio de fazer política. E com o que não concordará também o eleitor mineiro, que de alguma forma se empolgou com a possibilidade de o governador Aécio disputar a Presidência da República. Ah, mas Serra não quer as prévias, e fará de tudo para abortá-las. Mas, pergunta-se: por quê Serra teria medo das prévias, ele que tem o domínio do diretório nacional do PSDB, tem experiência suficiente para qualquer embate, tem a opulência de São Paulo para emoldurar sua candidatura? Por quê, afinal, Serra iria temer as prévias pedidas democraticamente por Aécio Neves?
Candidato à Presidência da República que tem medo de prévias de seu próprio partido, de duas uma: ou não tem o apoio partidário suficiente para ir às ruas ou tem medo das ruas. Não pode ser o caso de José Serra. Então, que se pare com essa coisa de que ele, Serra, não quer as prévias e desautorize-se os seus seguidores de continuarem torpedeando a ideia que é boa, deve-se repetir, tanto para Aécio quanto para Serra. Para Serra, porque elas serão um bom teste pré-eleitoral. Para Aécio porque, além disso, poderão funcionar para ele como uma saída honrosa - única hipótese, talvez, que fará com que os mineiros aceitem, ainda que com algum mal-estar, uma candidatura de Aécio ao Senado. Daí porque o encontro de Recife, pela forma como se deu e pela maneira como poderá ser explorado, deve recomendar ao governador Aécio Neves não apenas maior habilidade para tocar seu projeto adiante, mas também maior firmeza. Essa não é mais a hora de aceitar o entendimento, de topar algum tipo de acordo. O acordo é só um: as prévias, para o que der e vier.
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