sexta-feira, 16 de abril de 2010

Valor Econômico: “Aécio aposta futuro na reprise da conciliação”


Aécio aposta futuro na reprise da conciliação”

Na segunda-feira, o ex-governador mineiro Aécio Neves (PSDB) irá aprofundar a busca da identificação de sua imagem com a do avô, um ícone das características normalmente associadas aos políticos de Minas Gerais por muitos anos: o espírito conciliador e centrista, sem que isto implique em dubiedade de posições, tornando-se a solução para a superação de polarizações. Antigos assessores de Tancredo hoje se dividem sobre a capacidade de Aécio conseguir exercer o mesmo papel do avô. O jornalista Mauro Santayana, “ghost writer” de Tancredo e coordenador de sua campanha para o Senado em 1978, sugere que Aécio comece a articular com o PMDB sua eleição para a presidência do Senado após as eleições de outubro.

No cenário desenhado por Santayana, hoje um interlocutor de Aécio, José Serra é o mais provável vencedor das eleições presidenciais. E Aécio na presidência do Senado seria, simultaneamente, um freio à preponderância de São Paulo na divisão de poder e de uma possível radicalização de uma eventual oposição petista e de partidos de esquerda que deve ter sua representação reforçada na próxima legislatura. “Tancredo sempre cresceu nos momentos de crise e o desequilíbrio federativo pode gerar um conflito”, comenta Santayana.

Ex-ministro do Interior, escolhido por Tancredo, e hoje historiador e conselheiro do Tribunal de Contas do Distrito Federal, Ronaldo Costa Couto é cauteloso com a transposição. “Aécio já provou o talento político ao eleger-se em circunstâncias adversas para a presidência da Câmara dos Deputados, em 2001. Mas os antagonismos de hoje não são minimamente comparáveis aos do passado. Exatamente pela ação de Tancredo e de outros, existe uma institucionalidade que pactua a solução de controvérsias, ao contrário do tempo do avô”, diz.

A vocação conciliadora de Tancredo não marcou o início de sua carreira. Como ministro da Justiça de Getúlio Vargas, Tancredo não pôde impedir que o governo ficasse marginalizado nas investigações sobre o atentado ao jornalista Carlos Lacerda. Quando as pressões sobre Getúlio o levaram a considerar licença do mandato, Tancredo defendeu a resistência armada. A crise resultou no suicídio do presidente. Tancredo ficaria sem mandato por oito anos.

A imagem de negociador começou a ser construída com a saída parlamentarista para a crise detonada pela renúncia de Jânio Quadros, em 1961, ocasião em que Tancredo tornou-se primeiro-ministro e estabeleceu relação de confiança com os irmãos generais Ernesto e Orlando Geisel, que foi decisiva para impedir a sua cassação, de acordo com Costa Couto. Mas suas habilidades não detiveram a escalada que derrotou João Goulart, de quem foi o líder do governo na Câmara, em 1964.

A candidatura presidencial começou a ser construída a partir de 1978, quando Tancredo procurou estabelecer um consenso entre as forças de Minas, que ainda seguiam informalmente a divisão entre os extintos UDN e PSD. “Ele se aliou ao ex-governador Magalhães Pinto, seu adversário histórico, para formar o Partido Popular. Disso decorreu anos depois a chapa de Tancredo governador com o udenista Hélio Garcia de vice, em 1982, e o acordo de apoio recíproco na sucessão presidencial com o então vice-presidente Aureliano Chaves, que também tinha origem na UDN”, relembra o jornalista J.D.Vital, que foi seu secretário de imprensa.

Foi graças à virtual unanimidade em Minas que Tancredo teve base para alçar vôo presidencial. Era algo que os políticos de São Paulo estavam impedidos de fazer: o PMDB se dividia entre o então governador Franco Montoro e o presidente do partido, o deputado Ulysses Guimarães e contava com fortes antagonistas: o ex-presidente Jânio Quadros, o então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador e presidenciável Paulo Maluf.

Repetir o avô e construir uma relação fluida entre governo e oposição em Minas foi uma das metas de Aécio em sua administração. Diversas vezes Aécio disse que “em Minas, sempre há um palmo de chão onde homens de bem possam conversar”, citando uma frase de Milton Campos, governador na década de 40.

Tancredo credenciou-se como candidato oposicionista ao apoiar a derrotada campanha das eleições diretas e pactuou com as autoridades militares a intocabilidade da lei de anistia para viabilizar sua candidatura indireta, alimentada pela dissidência do PDS, capitaneada por Aureliano, contra a candidatura de Maluf. Na frustrada tentativa de disputar a candidatura presidencial, Aécio buscava colocar-se como a figura política “pós-Lula”, que levaria o Brasil a transcender a polarização entre PT e PSDB.

Santayana dá sinais de que a simbologia do Estado continuará a ser explorada no futuro. “Aécio está com 50 anos, a mesma idade que Tancredo tinha quando perdeu o governo de Minas para o Magalhães Pinto. Está muito adiante do que o avô estava. É verdade que Minas perdeu substância política e econômica, mas os mineiros têm um segredo que só eles sabem e não contam. E nem todos que nascem em Minas são propriamente mineiros”, disse. (CF)


Fonte: Valor Econômico

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