Fonte: Revista Exame
Para o economista Arminio
Fraga, conselheiro do pré-candidato tucano Aécio Neves, o desafio do próximo
presidente é aumentar o investimento e a produtividade.
O carioca Arminio Fraga tem,
aos 57 anos, um dos melhores currículos entre os economistas brasileiros. Ele
acumula experiência em cargos nos setores público e privado e na academia.
Antes de ser presidente do
Banco Central, de 1999 a 2002, no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso,
Fraga trabalhou seis anos ao lado do investidor húngaro-americano George Soros
e no banco de investimento Salomon Brothers, nos Estados Unidos. Deu também
aulas em universidades americanas.
Desde 2003, comanda a Gávea
Investimentos, gestora que administra mais de 16 bilhões de reais. Nos últimos
meses, Fraga tem aconselhado o senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à
Presidência da República. Fraga falou a EXAME sobre os desafios do próximo
governo e o que, em sua visão, deve ser feito para atacá-los. A seguir, os
principais trechos da entrevista.
EXAME - Qual o maior desafio do presidente que
assumir o cargo em 2015?
Arminio Fraga - Na
última década, o país viveu um ciclo de crescimento impulsionado por crédito
farto e alta no preço das exportações. O desemprego era alto e caiu. Foi bom.
Mas, de uns anos para cá, os limites surgiram.
O modelo econômico vigente
desde o segundo mandato do ex-presidente Lula não consegue entregar crescimento
alto. Ao contrário. O Brasil vive uma situação incômoda de crescimento baixo e
inflação alta. Isso gera incertezas e paralisa as decisões de investimento.
Quem quer que seja eleito
vai ter de encontrar um modelo que incentive o aumento dos investimentos e da
produtividade para o país crescer de forma sustentável.
EXAME - Como se consegue isso?
Arminio Fraga - Será preciso fazer ajustes
macroeconômicos — fiscais e monetários. E também ajustes pontuais: o governo
precisa funcionar melhor e entregar resultados. É necessário um ataque frontal
ao chamado custo Brasil. É bom que os salários cresçam. Mas isso tem de vir
acompanhado de ganho de produtividade para manter a rentabilidade das empresas.
De modo geral, falta o que
podemos chamar de uma “visão século 21” da situação. Há uma cobrança da
sociedade por isso. A população exige melhores serviços públicos. E só com
serviços de qualidade teremos um país com igualdade de oportunidades.
EXAME - Uma
das críticas feitas aos oito anos do PSDB no governo é que o partido
administrava mais para as empresas e menos para a população.
Arminio Fraga - Quem criou essa visão foi o
PT. Curioso. No governo, o próprio PT comprometeu recursos e capital político
em subsídios, proteções e créditos para algumas empresas. A proposta do PSDB
era, e é, criar um ambiente de igualdade de oportunidades.
É criar as condições
adequadas para que o setor privado se preocupe apenas em aumentar a
produtividade. Mas, do jeito que as coisas estão, as empresas têm de gastar
energia em fazer lobby no governo para sobreviver às dificuldades.
EXAME - Não
foi no governo do PT que houve a maior redução da pobreza?
Arminio Fraga - A queda na pobreza ocorreu e
é uma ótima notícia. Mas não podemos nos iludir. O brasileiro continua pobre
para os padrões globais. Para avançar, precisamos voltar a crescer. Programas
como o Bolsa Família são vitais. Mas o crescimento é ainda mais importante na
redução da pobreza. Hoje, o que frustra é ver o país com dificuldade em
crescer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário