quinta-feira, 12 de março de 2009

A hora da verdade: “Por que Aécio incomoda tanta gente?”

No "Estadão" de ontem, o médico Jota Dangelo, com a experiência política de quem já foi secretário de Estado, publica um excelente artigo sobre o temor que o Governador de Minas Gerias Aécio Neves
provoca em quem acha que partido, no caso o PSDB, tem fila e castas. Vale a pena ler o artigo na íntegra.


Por que Aécio incomoda tanta gente?

Quarta-Feira, 11 de Março de 2009
Jota Dangelo

Por seus próprios méritos José Serra é um bom candidato a presidente da República. Por isso mesmo é constrangedor ver defensores da sua candidatura abrirem mão dos legítimos argumentos de sua causa e abraçar lógicas baseadas na arrogância e no preconceito para defendê-la.
Um dos subprodutos desse novo e inusitado “serrismo” é a crescente tentativa de desqualificar o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, crucificado, ao que se percebe, pelo crime de ousar defender pontos de vista diferentes daqueles expressos pelo governador paulista.
Se pensasse igual a Serra, Aécio talvez fosse saudado por esses críticos como um político de visão, e a Minas - e aos mineiros em particular - seria feita a concessão de ser considerada não pejorativamente uma terra de caipiras, mas uma parte do País merecedora, como qualquer outra, do respeito dos brasileiros.
Em política a crítica é fundamental. E até mesmo a crítica mais contundente é importante. O que é ruim, sempre, é o preconceito. E na política é ainda mais danoso.O governador de Minas vem sendo alvo de um processo que busca a fragilização de sua imagem pessoal, que nada tem que ver com a manifestação crítica e o exercício do contraditório.
Esse processo, baseado na divulgação de insinuações e de inverdades, agride a alma de brasileiros que, acredito, mesmo não sendo apoiadores de Aécio, respeitam a arena da diversidade do debate político.Nada nasce grande. Tudo começa pequeno. Até mesmo o preconceito e o pensamento autoritário que geralmente o embala. Em situações extremas, que felizmente nada têm que ver com o Brasil, vimos o preconceito, de forma envergonhada, ir testando os limites da consciência da sociedade por meio da piada agressiva, da galhofa presunçosa.
Assim começaram um dia as piadas antissemitas, contra homossexuais, negros e as que propagam a xenofobia contra outros povos ou regiões. Assim começa também a despolitização da política.No caso de Aécio Neves, ora lemos na imprensa que ele é jovem demais, ora é “boa pinta” e ora é chamado de mimado ou caipira, tentativas de diminuir, perante os brasileiros, a trajetória de um homem de 49 anos de idade, 16 anos como deputado federal, ex-presidente da Câmara dos Deputados e duas vezes eleito governador de Minas em primeiro turno, com votações históricas.
Os governadores Sérgio Cabral, Eduardo Campos e Cid Gomes são mais novos que Aécio. Não me lembro de já ter visto algum deles ser considerado “jovem demais”.Como parte desse mesmo processo, vejo, por um lado, reacender a velha pecha da Minas provinciana, que ecoa na cantilena de que a imprensa de Minas não é suficientemente crítica com sua administração. É fato sabido que a insinuação de que a imprensa é condescendente com governos existe em todo o País e há décadas - e nem a chamada imprensa nacional escapa dela.
A cobertura que os jornais de Minas fazem do governo mineiro e a que os jornais paulistas oferecem ao governo de São Paulo são mesmo diferentes? E os fluminenses ao governo do Rio de Janeiro? Bastaria uma análise criteriosa e, sobretudo, independente do conteúdo dos noticiários tidos como nacionais e estaduais para termos uma resposta. Acredito que muita gente ficaria surpresa…Por outro lado, vejo o esforço de desconstrução do choque de gestão realizado em Minas. Nesse caso, a cantilena repete alto que ele foi construído à custa de demissões de servidores e reflete uma visão fria de governo.
Mas se cala quando constata que demissões não foram realizadas e que os resultados das áreas sociais são tidos como referência por organismos internacionais como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial.No debate específico do PSDB, há os que lançam mão do velho artifício de tentar camuflar opinião em informação e, para isso, partem de falsas premissas para chegar à conclusão - ou partem da conclusão para criar as falsas premissas - de que justa, no PSDB, só mesmo a pretensão de Serra em ser presidente, tornando as outras questões secundárias, os demais membros do partido personagens ridículos e suas propostas, ilegítimas.
Uma das premissas mais equivocadas nesse tipo de raciocínio diz respeito às prévias do PSDB, que são apresentadas como um capricho pessoal, defendidas apenas para incomodar o governador paulista. Não é sequer considerada a hipótese de que as prévias e o aprofundamento da democracia partidária sejam uma reivindicação de grande parte do partido, da qual Aécio esteja tendo a coragem de ser porta-voz.
O jornal O Estado de S. Paulo publicou, em 4 de fevereiro, que levantamento “com 24 dos 27 diretórios estaduais do PSDB mostra que 18 presidentes e secretários-gerais do partido nos Estados querem participar do processo de escolha”. “As principais lideranças tucanas nos Estados defendem a realização de primárias, caso não haja consenso em torno do nome que concorrerá ao Planalto.”Evidências como essas são sempre ignoradas, o que me faz, de novo, imaginar que, se as prévias fossem uma proposta pessoal do governador mineiro, este deveria ter realmente uma força extraordinária dentro do PSDB, a ponto de fazer com que 75% do partido siga a sua orientação pessoal!Quando o pretenso debate político abandona o campo da realidade para se dar no campo das insinuações e dos preconceitos, perdemos todos os brasileiros.
Inclusive os de São Paulo. Imagino que, ultimamente, vendo as ações de alguns aliados em defesa de sua candidatura, o governador José Serra deva estar repetindo para si mesmo as velhas máximas: “Com amigos como esses, quem precisa de inimigos?” ou “que Deus me proteja dos meus amigos, porque dos meus inimigos cuido eu”.
Jota Dangelo, médico, professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi secretário de Estado de Cultura de Minas Gerais

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