Almir Pazzianotto Pinto é advogado e ex-ministro do Trabalho e
presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Ele escreve sobre
o legado de Tancredo Neves e coloca Aécio como o herdeiro desse processo
democrático iniciado com o avô.
Fonte:
Estadão
Nesta
nação desmemoriada, em que persiste o analfabetismo, que engrossa a legião dos
desonestos e alienados, é necessário remarcar, com insistência, episódios
esquecidos. A crise do sistema de ensino, aliada à política de desinformação
praticada pelo governo petista, relega ao esquecimento fatos da História e abre
espaço a terroristas, corruptos e picaretas, festejados como heróis.
Passadas
três décadas desde a vitória de Tancredo Neves para a Presidência da República,
milhões pouco sabem do período 1960-1990, sendo comum encontrar quem imagine
ter sido o PT responsável pela derrota, em 15 de janeiro de 1985, do candidato
oficial, Paulo Maluf.
Tancredo
pertence a reduzido grupo de estadistas. Lançou-se na vida pública em São João
del-Rei, em 1933, pelo antigo Partido Progressista, fundado por Olegário
Maciel, Antonio Carlos Ribeiro de Andrade e Venceslau Brás.
Vereador, deputado estadual, deputado federal,
ministro da Justiça de 1951 a 1954, foi orador à beira do túmulo de Getúlio
Vargas, em São Borja, cujo suicídio, no dia 24, gerou a crise que resultaria
dez anos depois no movimento de 31 de março.
Grande
ao longo da vida, Tancredo agigantou-se em 1984. Derrotada a emenda
constitucional que restabeleceria eleições diretas para a Presidência, restou à
oposição arriscada disputa no colégio eleitoral.
Discursos
reunidos no livro Tancredo Neves - Sua Palavra na História revestem-se de atualidade.
Os problemas levantados durante a breve campanha eleitoral permanecem como
então se achavam: insolúveis. E 11 anos de petismo só fizeram agravá-los.
José
Sarney recebeu o País em precárias condições econômicas e sociais. Fez o
possível, sob o bombardeio de milhares de greves, que somaram milhões de horas
de produção perdidas, e de serviços públicos interrompidos, em prejuízo da
economia, dos salários, do povo.
Tentou
três vezes, mas não derrotou a inflação. Fernando Collor de Mello foi abatido mal
havia decolado. Itamar Franco aplainou o terreno para o Plano Real, que
estabilizou a moeda, conteve os preços, zerou a inflação.
A
Aécio Neves o destino reservou a missão de levar adiante a tarefa de
reconstruir o País desejado pelo avô. Empenhou o futuro político no desfecho do
próximo pleito.
Os
derradeiros discursos de Tancredo consubstanciam, em linguagem serena e
objetiva, autêntico programa de governo. Deixarei de lado parágrafos referentes
a saúde, educação, transporte, relações internacionais, austeridade, combate à
corrupção, recuperação da economia para me deter na área do trabalho,
prioridade máxima de governo consagrado à tarefa de repor o Brasil na rota do
desenvolvimento e lhe devolver a industrialização e prestígio internacional.
Antes,
porém, rápida parada no discurso proferido em 1984, na Convenção Nacional do
PMDB (o antigo, não esse que está aí), ao se referir à formação da Aliança
Democrática: "Temos de compreender a verdade essencial do nosso pacto
político. Nós o estabelecemos em favor da nossa gente. O Brasil que amamos não
é entidade abstrata, feita apenas de símbolos, por mais que os veneremos. O
Brasil que amamos está em cada coração e em cada alma de seus filhos.
Restaurar, em seus olhos, o orgulho da Pátria é a missão que nos cabe. A
soberania do País é a soberania de seu povo; a dignidade do País é a dignidade
de sua gente".
Quão
distinta dos negócios que se fazem agora, mediante a entrega de ministérios em
troca de segundos de televisão.
No
mesmo pronunciamento, a respeito da CLT observou Tancredo: "As relações
entre capital e trabalho reclamam novo ordenamento jurídico. A Consolidação das
Leis do Trabalho é um diploma envelhecido no arbítrio, que desserve aos
empregados e não serve aos empresários. O código vigente só tem servido para
iludir trabalhadores e intranquilizar empresas. Não há economia forte com
sindicatos fracos. A autonomia sindical é imprescindível à construção
democrática do País. Os sindicatos, quando no exercício das suas atividades
legais, existem como legítimos instrumentos dos trabalhadores, e sem eles não
há paz social".
Falando
ao País após a vitória no colégio eleitoral, dirigiu-se aos assalariados para
afirmar: "Retomar o crescimento é gerar empregos. Toda a política
econômica de meu governo estará subordinada a esse dever social. Enquanto
houver, neste país, um só homem sem trabalho, sem pão, sem teto e sem letras,
toda a prosperidade será falsa".
Já
no discurso redigido para o dia da posse tratou da liberdade sindical, tendo a
audácia de registrar: "Os sindicatos devem ser livres. A unidade sindical
não pode ser estabelecida por lei, mas surgir naturalmente da vontade dos
filiados. Sendo assim, tudo farei para que o Brasil adote a Convenção 87 da
Organização Internacional do Trabalho. Os sindicatos não podem submeter-se à
tutela do governo nem subordinar-se aos interesses dos partidos políticos. Se
devemos ter uma política sindical, temos que evitar qualquer sindicalismo
político".
Escândalos
decorrentes de relações promíscuas entre governo e sindicatos confirmam
Tancredo e robustecem a necessidade da reforma sindical. O pelego entrava a
geração de empregos, pois desencoraja aplicações em atividades geradoras de
emprego.
Aécio
deve dar continuidade ao projeto do "Estado moderno, apto a administrar a
Nação no futuro dinâmico que está sendo construído". Poderá adotar como
emblema a frase "é proibido gastar", encontrada no discurso do avô ao
novo Ministério.
A
Nação sabe que nunca se esbanjou tanto, e de maneira tão irresponsável,
dinheiro do povo como em 11 anos de petismo. Vejam-se as viagens e os estádios
da Copa.
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