Fonte: Jornal O Globo
Em entrevista ao jornal
espanhol “El País”, publicada ontem, o ex-presidente Lula afirmou que com o
crescimento do PT, ao longo desses 33 anos, e com sua chegada ao poder foram
aparecendo “defeitos”, como a valorização demasiada do Parlamento e de cargos públicos,
e o surgimento da corrupção.
Apesar disso, Lula disse que dirigentes do
partido foram previamente condenados, por meios de comunicação, no julgamento
do mensalão, inclusive, segundo ele, “à prisão perpétua”.
— Era um partido pequeno (o
PT), que depois passou a ser grande e, como tal, foram aparecendo defeitos.
Gente que dá muito valor ao Parlamento, outros aos cargos públicos — disse
Lula, ao “El País”.
Nesse trecho, o repórter
interrompe o ex-presidente e faz referência ao escândalo do mensalão. Lula,
então, lembra, com saudosismo, de como o partido funcionava no passado:
— Eu queria dizer que as
pessoas tendem a esquecer os tempos difíceis em que achavam bonito carregar
pedra. A gente acreditava, era maravilhoso. Um grupo mais ideológico, as
pessoas trabalhavam de graça, de manhã, à tarde e à noite. Agora você vai fazer
uma campanha e todo mundo quer cobrar. Não quero voltar às origens, mas
gostaria que não esquecêssemos para que fomos criados (o PT). Por que queríamos
chegar ao governo? Não para fazer como os outros, mas para agir de maneira
diferente.
O repórter retomou o assunto, lembrando o que dizia anteriormente o
ex-presidente sobre o processo de crescimento (do PT):
— Aparece a corrupção — completou Lula, sem explicar na entrevista sobre
quais casos de corrupção se referia.
Ex-presidente critica cobertura do mensalão
O ex-presidente criticou a imprensa pela cobertura do julgamento do
mensalão:
— No caso dos companheiros do PT, já foram previamente condenados.
Alguns meios de comunicação o fizeram, independente da sentença, inclusive à
prisão perpétua. Alguns (petistas) nem podem sair na rua.
O ex-presidente afirmou ainda duvidar que exista no mundo uma nação com
quantidade de fiscalização tão grande como o Brasil. E disse que 90% das
denúncias são feitas pelo próprio governo:
— O que digo aos companheiros é que só há uma forma de não ser
investigado neste país: não cometer erros.
Na entrevista, Lula também pregou a necessidade de renovação do partido:
— O Partido dos Trabalhadores completou 33 anos de vida. Quando se chega
a isso, os que começamos com 35 anos, devemos dar espaço a uma nova geração.
Quanto às manifestações de junho, que tomaram conta das ruas do país e
pegaram de surpresa a classe política, o ex-presidente disse que elas “são
saudáveis”. E listou conquistas de seu governo para dizer que é natural, na sua
opinião, que a população queira mais.
Lula ressaltou, no entanto, que é preciso valorizar a participação
democrática e não permitir que os jovens reneguem a política:
— Temos que valorizar a participação democrática e não permitir que os
jovens reneguem a política, porque quando isso ocorre o que vem é o fascismo.
Apesar de haver um forte “Volta Lula” em setores do PT, o ex-presidente
disse, mais uma vez, que não será candidato nas eleições do ano que vem:
— Eu tenho minha candidata, que é Dilma, e vou trabalhar para ela.
Sobre a crise econômica que afeta a Europa, principalmente Espanha,
Portugal e Grécia, Lula disse ao jornal espanhol que, na sua opinião, há um
problema de falta de decisão política, e não econômica:
— As decisões não foram tomadas no momento adequado. No fundo, se
permitiu os mesmos ajustes que se fazem nos países pobres. Espanha ou Grécia,
com suas rendas per capita, poderiam assumir ajustes de mais longo prazo, não a
um tão curto (prazo), asfixiando a economia, a base de sacrifícios enormes, sem
levar em conta o que vai custar à população para se recuperar.
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