Pré-candidato à Presidência
da República, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), não
poupa nas críticas ao governo federal, do PT, de quem se tornou um dos
principais oposicionistas.
Em entrevista à Tribuna, o
tucano avalia que é chegada a hora de encerrar “o ciclo de governo do PT e
estabelecermos um novo ciclo, que reúne ética e eficiência e que impeça que as
principais conquistas que nós tivemos nas últimas décadas”.
Mesmo não assumindo a
postura de candidato – fica apenas como pré – ele sinaliza as posições para o
próximo ano. “Nós teremos algo novo a apresentar ao Brasil, nós seremos o novo
nessas eleições. O velho serão aqueles que estão aí hoje sem capacidade de
reagir a esse pífio crescimento da economia, sem capacidade de conduzir os
investimentos do governo, porque hoje o Brasil é um grande cemitério de obras
inacabadas”, critica Aécio, que não nega a aproximação com o governador de
Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Tribuna – Presidente do PSDB, pré-candidato à
Presidência da República, como o senhor pretende se viabilizar como candidato
competitivo no próximo ano?
Aécio Neves – Na
verdade, eu venho mais uma vez a Salvador como presidente nacional do PSDB
fazer, em primeiro lugar, uma visita ao nosso principal aliado que é o Democratas.
Venho acompanhado do presidente nacional do partido, senador José Agripino, do
líder do meu partido no Senado, senador Aloysio Nunes, e dos nossos
companheiros na Câmara dos Deputados, deputado (Antonio) Imbassahy e deputado
Jutahy (Magalhães Jr.). A aliança do PSDB com o Democratas é o núcleo de uma
proposta alternativa de Brasil a esse modelo que está aí e exauriu-se. Um
modelo que não apresenta mais qualquer capacidade de transformar o Brasil. Eu
venho aqui, óbvio, que a política se faz também com símbolos, mas para trazer
também o meu cumprimento pessoal ao prefeito ACM Neto, meu queridíssimo e
pessoal amigo, e que já mesmo com poucos meses faz uma gestão que repercute
muito fora, não apenas de Salvador, mas fora do estado da Bahia. E é óbvio que,
quando se encontram homens públicos, pensa-se no Brasil. Eu tenho muito
otimismo em relação à possibilidade de nós encerrarmos esse ciclo de governo do
PT e estabelecermos no Brasil, rapidamente, um novo ciclo, que reúne ética e
eficiência e que impeça que as principais conquistas que nós tivemos nas
últimas décadas, como a estabilidade da economia e a credibilidade do Brasil
sejam perdidas como o governo do PT vem ameaçando. Temos que cuidar agora de
construir o nosso palanque, e é o que nós estamos fazendo, e a base, o núcleo,
a essência desse palanque é a aliança do PSDB com o Democratas. Não havendo
isso, estamos ambos fragilizados. E a presença, ao meu lado, do presidente
nacional do DEM, José Agripino, é uma sinalização das mais importantes de que
nós estaremos mais uma vez juntos, construindo uma nova página na história do
Brasil. É extremamente relevante chegar na Bahia ao lado do senador Agripino.
Tribuna – Isso
quer dizer que, numa eventual composição para o Palácio do Planalto, o DEM vai
indicar o vice de Aécio Neves?
Aécio – É
uma possibilidade, eu diria, até natural. Mas essa não é a questão que está
sendo debatida agora, nem proposta agora pelo próprio Democratas. Obviamente, a
composição se dará entre as forças políticas que estiverem ao nosso lado. Mais
importante do que isso é a contribuição que o Democratas tem dado a esse debate
no Congresso Nacional, pela qualidade das suas figuras, dos seus parlamentares,
mas em especial pela qualidade e a liderança do seu líder maior, José Agripino,
e nessas andanças pelo país. Nós temos o compromisso do senador Agripino de
estar ao nosso lado em vários eventos que nós vamos realizar Brasil afora, e
essa é uma sinalização muito importante para dar densidade ao nosso projeto.
Tribuna – O
senhor vai conseguir unificar o partido e evitar uma possível prévia com o
tucano José Serra?
Aécio – O
PSDB nunca esteve tão unido. Eu tenho dito sempre, o companheiro José Serra tem
toda legitimidade para postular o cargo que quiser, e dentro do partido nós
respeitaremos sempre essa postulação. E a nossa expectativa é que essa questão
seja resolvida naturalmente, no tempo certo. Hoje, a minha prioridade como
presidente do PSDB é mobilizar o partido em todos os estados brasileiros e
apresentar uma proposta alternativa a essa aí. Amanhã (sábado, pois a
entrevista foi realizada durante a visita de Aécio Neves a Salvador na última
sexta-feira), estaremos em Maceió, reunindo também lideranças de toda a região
Nordeste, no início do esboço daquele que será o nosso conjunto de propostas,
inclusive com relação à região Nordeste, que passa por problemas de
infraestrutura que estão aí acabadas. Na verdade, o Brasil virou um grande
canteiro de obras inacabadas. Passa por uma solidariedade maior do governo
federal na área da segurança, hoje os estados e municípios investem 87% de tudo
que é gasto em segurança pública no Brasil e a União apenas 13%, e nós sabemos
do agravamento da questão da segurança, da criminalidade em toda a região. É
preciso que o governo federal não se omita mais, dê respostas claras a essa
questão. Na área da saúde, outro drama dos brasileiros. Mais uma vez o governo
federal coloca ou transfere aos estados e municípios a responsabilidade com a
maior parte do financiamento.
Tribuna – O
senhor acredita que há uma fadiga do modelo do PT de governar?
Aécio – Eu
acho que sim, porque o PT abdicou de ter um projeto de país e se contenta em
ter apenas um projeto de poder. E que o tem levado a esse vale-tudo. Não temos
no Brasil um governo de coalisão. Nós temos um governo de cooptação. E
cooptação com dinheiro público, com emendas parlamentares, com cargos públicos
e sem que esse governo possa inspirar a quem quer que seja uma perspectiva
melhor lá adiante. A perda de credibilidade do Brasil junto a agentes
financeiros e investidores internacionais é extremamente grave. O Brasil
precisa de um projeto de país, até porque o PT abriu mão de ter esse projeto, o
PT abriu mão de ter um projeto de país para se contentar em ter exclusivamente
um projeto de poder. A nossa responsabilidade é essa, que as conquistas que nós
obtivemos ao longo de décadas não sejam colocadas em risco como estão hoje
algumas delas, como a estabilidade da economia, os pilares fundamentais da
macroeconomia que nos trouxeram até aqui a credibilidade do Brasil, sobretudo
internacional, retratada agora, infelizmente, pela pouca atratividade de alguns
dos leilões de concessão apresentados pelo governo. Esses últimos leilões
anunciados com enorme atraso pelo governo do PT de concessões de rodovias e
agora até do próprio pré-sal, mostram a desconfiança que há em relação ao
Brasil hoje. O longo aprendizado do PT ao longo de 10 anos – depois de
demonizar as concessões e privatizações, busca fazê-las a toque de caixa –
custou extremamente caro ao Brasil. O aprendizado do PT impediu que, por
exemplo, nós tivéssemos ficado cinco anos sem qualquer leilão da Petrobras. E
fez com que em 10 anos os principais eixos rodoviários do Brasil tivessem
avanços mínimos. Está aí a BR-101 como exemplo na região claro em relação à
incompetência e à inaptidão do governo pela boa gestão. Houve uma antecipação
clara do processo eleitoral feita pelo governo, por iniciativa do ex-presidente
Lula, no momento em que lança a presidente da República como candidata. O papel
da oposição é permanentemente apresentar propostas, é permanentemente andar
pelo país.
Tribuna - O
que há de diferente agora no país?
Aécio - O
que há de diferente e de inusitado nesse momento no Brasil é a ação do governo.
Porque nós não temos mais uma presidente da República, nós temos uma candidata
a presidente da República que se move, que se movimenta, única e exclusivamente
em razão da eleição, que toma atitudes em razão da eleição. Nós temos hoje o
governo do marketing comandando as decisões governamentais. Já o que nós queremos
é ouvir os brasileiros e apresentar uma proposta que possa ser comparada à do
governo. Eu digo com a mais profunda sinceridade: nós teremos algo novo a
apresentar ao Brasil, nós seremos o novo nessas eleições. O velho serão aqueles
que estão aí hoje sem capacidade de reagir a esse pífio crescimento da
economia, sem capacidade de conduzir os investimentos do governo, porque hoje o
Brasil é um grande cemitério de obras inacabadas, sem capacidade de inspirar
confiança e credibilidade nos agentes privados, que deveriam estar vindo para o
Brasil nos ajudar a retomar o crescimento da economia, já que a aposta no
crescimento apenas pelo consumo pela oferta de crédito exauriu-se, chegou ao
seu limite. O PSDB e o Democratas apresentar um projeto alternativo não é opção,
é obrigação. É a nossa responsabilidade pela história que nós temos e pela
parcela importantíssima que nós demos no passado para que o Brasil chegasse
aonde chegou.
Tribuna – Qual
deve ser o maior desafio do próximo presidente a ser colocado como prioridade
no Brasil?
Aécio – O
Brasil não pode se dar ao luxo de ter apenas um desafio. É um conjunto de
medidas que precisam ser tomadas. A primeira delas é transformar o Estado em um
instrumento de melhoria da qualidade de vida das pessoas. Portanto, nós temos
que ter um governo mais enxuto. Eu diria que é um acinte à inteligência da
população brasileira você ter hoje praticamente 40 ministérios, 39 ministérios.
O Brasil só perde, no mundo, para o Siri Lanka no número de ministérios. E
ministérios que não entregam absolutamente nada de serviços de qualidade, que
servem apenas para acomodar os companheiros. Até do ponto de vista simbólico,
nós temos que ter um Estado mais enxuto e mais eficiente. Um Estado que seja
mais solidário com os municípios e com os estados no financiamento da saúde, da
educação e da segurança pública. Um Estado que não se submeta a um viés
ideológico nas suas relações internacionais. Nós vamos, infelizmente, depois de
termos crescido no ano passado apenas mais do que o Paraguai, crescer este ano
apenas mais do que a Venezuela. O Brasil perdeu a liderança regional. O Brasil
é hoje caudatário de decisões radicais de alguns países vizinhos e se submete a
essas decisões de viés ideológico. Nós precisamos recolocar o Brasil no centro
da região, como liderança definitiva, inclusive com reflexos políticos em
outros países vizinhos. E termos um governo que atraia investimentos e valorize
aquilo que é essencial para as pessoas, que é saúde, educação e segurança.
Tribuna – O
senhor falou que o país hoje é um “país de obras inacabadas”. Como destravar
gargalos, sobretudo na área de logística e infraestrutura?
Aécio – Estabelecendo
prioridades. E o Brasil não tem. O Brasil, o governo do PT, trata como se fosse
natural você ter obras com sobrepreços que passam do dobro daquilo projetado
inicialmente e pelo meio do caminho. A transposição do São Francisco
inicialmente foi orçada em R$ 3,5 bilhões para ficar pronta em 2010. Não se
sabe quando ficará pronta e custou mais do que isso. A Transnordestina, que
também foi orçada inicialmente em R$ 3,5 bilhões, está hoje orçada em mais de
R$ 7 bilhões. A Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, inicialmente orçada em
R$ 4 bilhões, já gostou mais de R$ 30 bilhões. Será a refinaria mais cara do
mundo. Não se pode iniciar uma obra sem que ela tenha o projeto adequado e sem
que haja os recursos para a sua conclusão. Não existe maior desperdício de
dinheiro público do que você iniciar uma obra e não entregá-la, porque você
gasta o dinheiro e o benefício não chega. Eu estive recentemente na região,
visitando trechos da transposição do São Francisco, e é de uma
irresponsabilidade que causa indignação a qualquer cidadão com o mínimo de
sensibilidade. Obras abandonadas há três anos. Nas capitais, e Salvador é um
exemplo disso, nós estamos com as obras do metrô se arrastando há 10 anos e o
governo insiste nessa excentricidade – para não usar um termo mais forte – do
trem-bala, que custaria R$ 38 bilhões aos cofres públicos. Com R$ 38 bi você
faz 300 km de metrô nas principais capitais do Brasil. Então, falta prioridade
ao governo, falta foco, gestão. Já que o aparelhamento da máquina pública é a
principal marca desse governo. Eu acho que esse ciclo deve se encerrar, não em
benefício do PSDB ou das oposições, mas em benefício do Brasil e dos
brasileiros.
Tribuna – Uma
possível aliança do senhor com Eduardo Campos encontra resistência em estados
como a Bahia. Como fazer para transpor e superar desafios como esse?
Aécio – Eu
respeito muito a trajetória do governador Eduardo Campos, eu acho que ele será
um ator importante nesse cenário político que se avizinha. Ele tem propostas a
apresentar ao país e que devem ser ouvidas. Na mesma forma, nós vamos construir
as nossas propostas. Se houver, no futuro, a possibilidade de nos encontrarmos
– e acredito que será muito bom para o Brasil –, mas o que nós temos que fazer
hoje é respeitar a possibilidade hoje concreta de uma candidatura presidencial
do governador de Pernambuco.
Tribuna – O
PSB colocou à disposição os cargos que ocupava no governo. Isso facilita a
aproximação do PSDB com o PSB?
Aécio – O
tempo é quem vai dizer. Tenho uma amizade com o governador Eduardo Campos de
muito tempo. Nossos avôs foram parceiros em momentos importantes da história
brasileira, Tancredo Neves e Miguel Arraes. O Eduardo sempre foi um político
que enxergava longe, político muito astuto, no bom sentido dessa expressão. Eu
acho que essa entrega dos cargos é uma percepção clara que nós já havíamos
tendo há muito tempo e que ele passa a ter que esse modelo que está aí, esse
ciclo do PT vai se encerrar. Ele que se coloca como uma alternativa. É
absolutamente natural. Eu aplaudo a posição do governador Campos e vamos
caminhar, cada um na sua estrada. Quem sabe um dia elas se encontram para o bem
do Brasil? O tempo é que vai dizer e obviamente a população brasileira que vai
decidir.
Tribuna – O
principal alvo será o governo da presidente Dilma? Há esse acordo?
Aécio – Sem
dúvida. Não que haja um acordo. É natural que qualquer candidatura que surja
fora da base do governo é porque não concorda com o governo, é porque questiona
o governo. E nós queremos ir para o embate, em todas as áreas. Na área
econômica é quase uma covardia. Nós que estabilizamos a economia, nós que
fizemos a Lei de Responsabilidade Fiscal, com a oposição ferrenha do PT, numa
outra ação, no plano real e na lei, nós que internacionalizamos a economia,
readquirimos a capacidade, resgatamos a credibilidade do Brasil, estamos vendo
todas essas conquistas hoje colocadas em risco. Se quiserem ir para o debate da
gestão, nós vamos mostrar que o Estado não se administra da forma como se
administra hoje o Brasil. As agências reguladoras criadas pelo presidente
Fernando Henrique lá atrás foram desmoralizadas pelo governo do PT, se
transformaram em cabide de emprego. E algumas delas instrumentos de negócios
escusos, já denunciados pela própria Polícia Federal. E nos indicadores sociais
nós vamos dar exemplos. Eu darei o exemplo do que nós fizemos em Minas Gerais.
Minas Gerais com métodos, com metas e com gestão eficiente passou a ter hoje a
melhor educação do Brasil. Nós queremos mostrar que a gestão pública pode ser
eficiente quando se tem metas, quando se tem gente qualificada nos lugares
certos e coragem para enfrentar as corporações.
Tribuna – Como vê a disputa eleitoral na Bahia? O
fortalecimento da oposição vai lhe ajudar no seu projeto?
Aécio – Eu
vejo uma ação muito bem coordenada das oposições, sob a liderança do prefeito
ACM Neto, que conta com os companheiros do PSDB, que conta com os companheiros
do PMDB, do PV e do PPS. Eu acho que nós teremos uma candidatura, qualquer que
seja ela, de qualquer um desses partidos, muito sólida, muito consistente.
Obviamente, será muito importante, porque o que acontece na Bahia repercute em
todo o Nordeste e repercute em todo o Brasil. Eu tenho certeza que teremos
aqui, sob a liderança do prefeito ACM Neto, um palanque bem estruturado e,
obviamente, com a participação dos companheiros do PSDB.
Tribuna – Na
Bahia, o PMDB faz oposição ao governo do PT, mas, no plano federal, é aliado de
Dilma. Como será feita essa relação?
Aécio – Eu
tenho uma amizade pessoal grande com o deputado, o ex-ministro Geddel Vieira
Lima, a liderança maior do PMDB. Fomos parceiros na Câmara dos Deputados.
Quando eu me elegi presidente da Câmara dos Deputados eu era líder do PSDB e
ele era o líder do PMDB, a nossa articulação foi fundamental. A firmeza com que
Geddel construiu ali a nossa aliança foi fundamental para que a nossa vitória
ocorresse, agora, eu respeito, obviamente, as circunstâncias locais. O que eu
percebo do prefeito ACM Neto, do companheiro (José Carlos) Aleluia, dos
companheiros nossos do PSDB que aqui estão, Imbassahy e João Gualberto, é uma
intenção grande de manter o PMDB dentro dessa aliança no estado. E eu acho que
é muito importante que isso ocorra. O que eu puder ajudar ou estimular a
construção de um palanque, a manutenção de um palanque que já veio na eleição
municipal, no segundo turno, aqui para a eleição estadual. Eu acho que quem
ganha é a Bahia. E felizmente nós temos nomes qualificados em todos os partidos
para liderar a chapa, para compor a chapa. Eu tenho muito otimismo em relação
ao PMDB para que ele permaneça conosco como acontece em várias partes do
Brasil, onde parcelas importantes do PMDB também se cansaram do que está aí e
pode caminhar ao nosso lado.
Tribuna – O
que a população do estado pode esperar de Aécio Neves?
Aécio – Seriedade,
ética e uma vontade enorme de fazer o Brasil voltar a caminhar em busca de um
futuro melhor. O governo do PT se contenta apenas com a administração da
pobreza. Nós queremos mais, nós queremos a superação da pobreza. Para o PT, por
exemplo, o Bolsa Família é o ponto de chegada. Para nós é o ponto de partida.
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