Fonte: Folha de São Paulo
O PT anunciou a realização de seminários para "construir uma
narrativa própria" sobre os seus dez anos à frente do governo federal. É
uma excelente oportunidade para um acerto de contas com a verdade.
Estou entre aqueles que acreditam que a política deve ser exercida com
generosidade, reconhecendo, inclusive, as conquistas dos
"adversaries". É uma pena que o pragmatismo muitas vezes acabe por
prevalecer e a história passe a ser contada com os recursos da mistificação,
quando não da fraude factual.
Ao longo de sua trajetória, os petistas buscaram se apropriar da
bandeira da ética. Com o advento do mensalão, que explicitou o enorme abismo
existente entre o discurso e a prática do PT, sob a regência do marketing,
voltam agora a reivindicar o monopólio sobre as ações no campo social, até como
tentativa de esmaecer suas graves e irremediáveis contradições.
É nesse contexto que devem ser compreendidos os excessos representados
pela milionária campanha publicitária, para informar ao país que a miséria
acabou, e pela declaração da presidente Dilma de que o PT não herdou nada,
iniciativas que geraram constrangimentos até entre membros do governo e do
partido.
Há, no entanto, cada vez menos espaço para esse tipo de manipulação. É o
que mostra, por exemplo, estudo de grande reputação internacional feito pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Trata-se do relatório 2013
sobre a evolução do IDH.
Na página 74, ele informa: "Quando começou a transformação do Brasil num
Estado orientado para o desenvolvimento (cerca de 1994), já o governo havia
implementado reformas macroeconômicas para controlar a hiperinflação através
do Plano Real". Sobre educação, na página 82, é ressaltada a
importância da criação do Fundeb, em 1996.
O começo do Bolsa Família aparece de maneira inequívoca
na página 87: "O Brasilreduziu a desigualdade introduzindo um
programa para a redução da pobreza. O seu programa de transferência
condicionada de rendimentos, Bolsa Escola, lançado em 2001, (...) em 2003 foi
alargado ao programa Bolsa Família por via da fusão de vários
outros programas num único sistema".
O relatório nos permite concluir que foram grandes virtudes dos governos
petistas a manutenção e a expansão de iniciativas legadas pelo PSDB.
Os programas sociais brasileiros precisam continuar. Mas, em respeito
aos beneficiados, precisam avançar para além da gestão diária da pobreza. Isso
significa agregar à importante dimensão da proteção social a da verdadeira
emancipação dos cidadãos atendidos.
O Brasil tem ainda um longo e duro caminho a percorrer.
Falsear a realidade com slogans e frases de efeito não o tornará mais fácil.
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