segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Revista Época: demissões nos Correios mostram males na gestão de Hélio Costa desde 2005


Revista Época: demissões nos Correios mostram males na gestão de Hélio Costa desde 2005

Estragos políticos via Sedex
A mudança na direção dos Correios expõe os males na gestão das empresas estatais causados pelo loteamento partidário
Na primeira entrevista coletiva concedida depois de tomar posse, o novo presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), David José de Matos, anunciou o adiamento do concurso para preencher 6.500 vagas na estatal. Matos alegou dificuldades de logística e segurança para tomar a decisão. Essa foi a primeira medida adotada pelo novo presidente para tentar resolver os problemas de gestão atribuídos a seu antecessor, Carlos Henrique Custódio. Matos ainda não tem uma exata noção dos problemas que enfrentará nos Correios.

Já se sabe, porém, que parte das dificuldades se deve ao aparelhamento político da empresa. A estatal se tornou feudo do PMDB desde o escândalo do mensalão, em 2005, quando o PT também tinha apadrinhados na cúpula da estatal. Até duas semanas atrás, o PMDB ocupava cinco das sete cadeiras de direção. A ausência de técnicos nos principais postos fez a empresa mergulhar numa crise operacional. Atrasos na entrega de correspondências, conflitos na relação com a rede de franqueados, falta de equipamentos e de funcionários são alguns dos problemas. Há quase um ano a estatal tenta realizar o concurso, mas esbarra na própria burocracia. Responsável pelo concurso, a Diretoria de Gestão de Pessoas foi comandada nos últimos dois anos por Pedro Magalhães Bifano, irmão do deputado João Magalhães (PMDB-MG), indicado pela bancada mineira do partido.

Três meses antes de ser exonerado, Bifano se envolveu numa polêmica ao defender a abertura de licitação para contratar empresas fornecedoras de tíquetes-alimentação aos mais de 100 mil funcionários, que ganham mais de R$ 700 em tíquetes por mês. Bifano afirmava que a renovação dos atuais contratos, prorrogados desde 2008 e que somam quase R$ 1 bilhão, seria ilegal.

A lei determina que contratos só podem ser prorrogados sem licitação quando as cifras não ultrapassam em 25% o valor original. Segundo Bifano, os contratos prorrogados alcançaram cifras 67% acima do preço inicial. Bifano foi o único diretor a defender essa tese, contrariando pareceres de técnicos. Um deles é Matias de Araújo Neto, que disse a ÉPOCA ter estranhado a insistência do ex-diretor no assunto. “Não pressionei ninguém”, afirma Magalhães. “Na hora de renovar eu vi que os contratos já estavam acima de 25%. E achava que tinham de ser licitados novamente.” Custódio, que comandou a reunião em que ele e outros cinco diretores aprovaram a prorrogação, afirma que se guiou por pareceres técnicos e jurídicos dos Correios e da Controladoria-Geral da União (CGU).

Em conversas reservadas, Custódio diz que um dos fatores que contribuíram para sua demissão foi a relação com os franqueados, que se queixam da remuneração pelos serviços prestados. Muitas reclamações partiram do senador Gim Argello (PTB-DF). A mulher dele é sócia da franquia mais rentável dos Correios em Brasília. Durante os quatro anos em que esteve na presidência dos Correios, Custódio esteve com Gim em seis ocasiões, duas delas no Congresso. Nessas ocasiões, Gim sempre reclamava e cobrava melhoria da remuneração para os franqueados.

Gim foi procurado por ÉPOCA, mas não atendeu aos pedidos de entrevista. A depender do novo presidente, Gim não terá dificuldades de tratar de negócios com a cúpula da estatal. “O Gim é um franqueado, pode defender os interesses de um determinado segmento”, disse David de Matos. Essa confusão de interesses políticos com negócios particulares pode levar aos mesmos erros que carimbaram nos Correios o selo da ineficiência no atendimento ao público.


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