A
grave crise de segurança em curso é um fantasma que assombra o povo brasileiro,
atingindo especialmente os mais pobres. São cidadãos de baixa renda e moradores
das periferias urbanas as maiores vítimas, embora o medo atinja todas as
classes sociais.
O
recorde histórico dos homicídios, revelado pelo último Mapa da Violência,
mostra com toda a crueza a omissão e o descompromisso do atual governo com esta
tragédia. São 56 mil vidas perdidas por assassinatos no Brasil por ano –cerca
de 10% de todos os homicídios registrados no planeta.
A
outra face dramática da violência aponta a ocorrência de cerca de 50 mil
estupros no mesmo período, mas o número real pode ser ainda muito maior, em
função da subnotificação.
E
há ainda a tragédia diária das mortes no trânsito, impactada pelo aumento do
número de veículos sem uma estrutura de mobilidade adequada.
A
taxa por 100 mil habitantes em 2002 era de 19,1, e passamos para 23,7. Em
números absolutos, o salto foi de 33.288 mortos em 2002 para 46.051.
Todo
este quadro confirma o que venho afirmando reiteradamente: o Brasil não possui
uma política nacional de segurança pública. Na prática, o governo federal
limita-se a justificar a sua omissão com o discurso de que segurança pública é
responsabilidade dos Estados, adensando a ideia de uma federação anêmica e
pouco solidária.
No
plano das atribuições federais, as fronteiras permanecem abertas ao tráfico. O
problema das drogas segue em ritmo ascendente, sem falar do sucateamento da
Polícia Federal, envolvida em uma crise sem precedentes.
A
ausência de prioridade revela-se nos números: nos últimos três anos, apenas 35%
do orçamento federal para a área de segurança foi executado.
Apesar
do grave problema da superlotação carcerária, nesse mesmo período, ínfimos 11%
dos recursos do Fundo Penitenciário foram liberados. Do total de gastos do
setor, só 13% saem dos cofres da União.
Brasil
afora, a realidade se repete, gerada por um regime concentrador e pela
dependência de recursos em relação ao poder central: contingentes insuficientes
das forças de segurança, baixa remuneração, pouca integração do trabalho
policial, defasagem tecnológica e quase nenhum esforço para o compartilhamento
de responsabilidades.
Transformar
esta realidade vai nos exigir uma profunda mudança de modelo.
A
União tem que assumir o papel coordenador de uma política de Estado nesta área,
com o fim do contingenciamento dos recursos públicos e liderança para fazer as
reformas necessárias, como a do Código de Processo Penal, que se arrasta por
anos e serve à reincidência e a impunidade.
Solidariedade
entre entes federados é a palavra-chave quando se fala em segurança pública.
*Aécio
Neves é senador (PSDB-MG) e presidente nacional do PSDB
**Artigo
publicado na Folha de S. Paulo – 02/06/2014
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