Na
noite de sábado, fomos surpreendidos, Letícia e eu, com a chegada antecipada de
Julia e Bernardo, meus filhos caçulas. Apreensões à parte, sempre irremediáveis
no coração dos pais e das mães, é como se o tempo tivesse parado de repente à
nossa volta, como que reverenciando aquele que é o mais importante milagre
humano –a vida que floresce e se renova todos os dias.
Tomado
pela emoção de ser pai novamente, faço uma pausa nos temas, preocupações e
reflexões que venho tratando nesse espaço, para dividir com cada um de vocês um
sentimento muito especial. Dizem que quanto mais íntima a alegria ou a dor,
mais universal ela é. É o nosso sentimento mais pessoal que nos conecta com
toda a humanidade.
Como
já havia acontecido comigo antes, com a minha filha Gabriela, os gêmeos
trouxeram consigo o poder mágico e indescritível de fazer emergir o que há de
mais essencial em cada um de nós, lembrando-nos de quem somos, de onde viemos e
o significado maior de nossa jornada aqui.
Mesmo
sem saber, Julia e Bernardo tocam, de uma forma extraordinária, o coração de um
pai mergulhado em diferentes universos e grandes desafios coletivos, que neste
momento, se misturam à pessoal e intensa felicidade da suas chegadas.
Observando
os nossos dois bebês, impossível não me emocionar com o precioso sentido do
valor da família, resumido na imagem de minha mãe pedindo à Nossa Senhora –como
um dia pediu pelos seus filhos– que receba e envolva os netos em seu manto
protetor. Ou lembrar, com saudade, da voz do meu pai, contando casos e histórias,
que pretendo um dia contar a eles ao redor da nossa mesa.
Porque família é quem
veio antes, quem está conosco e quem vem depois. Me tornei o homem que sou pelo
exemplo que tive dos meus avós e de meus pais. Deles recebi valores que me
esforcei para passar à Gabriela e que pretendo transmitir ao Bernardo e à
Julia.
A
presença dos meus filhos me rejuvenesce em esperança ao mesmo tempo em que
fortalece o meu sentido de responsabilidade com o mundo em que vivemos. E com o
legado que cada um de nós está deixando para as novas gerações. Aumenta minha
responsabilidade com a luta para que eles possam crescer em um Brasil melhor,
mais honesto e que encha a todos nós de orgulho e de esperança. Quem vê o mundo
com olhos de pai, o vê com mais cuidado. Mas também com mais vontade de lutar.
Em
meio a tantos desafios e preocupações, o relógio da minha vida parou por alguns
instantes. São esses pequenos milagres do cotidiano que nos revelam o que é
essencial, verdadeiro e transformador. Tempo é dádiva. Vida é dádiva. É preciso
fazer a nossa parte para merecê-los.
*Aécio
Neves é senador (PSDB-MG) e presidente nacional do PSDB
**Artigo
publicado na Folha de S. Paulo – 09-06-2014
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