Semana passada vi de perto, dessa vez na cidade de Sorriso (MT)
--considerada a capital nacional do agronegócio e
nosso maior produtor individual de soja--, exemplos práticos das contradições
que comprometem o desempenho da nossa economia.
Ao mesmo tempo em que nos orgulham os
ganhos formidáveis de produtividade no campo, é desoladora a descrença dos
produtores na capacidade do governo federal de prover investimentos mínimos, em
logística e em infraestrutura, que garantam menores custos e maior
competitividade no momento de escoar a produção.
A frustração é de tal ordem que ouvi
de muitos deles o desejo de plantar menos, já na próxima safra, por não haver
sequer condições adequadas de armazenagem.
Com o crescimento do PIB projetado ao
redor de apenas 2% ao ano, o setor rural resiste de forma heroica e produz
resultados que devem ser reconhecidos e saudados pelos brasileiros: no segundo
trimestre, em comparação com o primeiro, o PIB agropecuário cresceu mais que o
dobro do PIB.
O crescimento foi de 14,7% no
primeiro semestre, se comparado com o mesmo período de 2012, enquanto o setor
de serviços cresceu 2,1% e a indústria, 0,8%.
A grande performance reflete as
transformações ocorridas quando a estabilização da economia decretou o fim do
uso especulativo da terra e inaugurou a fase da busca pela eficiência na
produção.
É notável, desde então, a crescente
utilização de novas tecnologias e métodos de manejo, tornando produtivo e
eficiente o setor, da porteira para dentro.
As dificuldades a serem superadas
estão da porteira para fora e são as mesmas que outros setores enfrentam. O
Programa de Investimento em Logística acaba de completar um ano sem realizar
nem sequer um leilão para obras em rodovias, ferrovias e portos.
Esse é o terceiro ano consecutivo em
que o Brasil cai no Índice de Competitividade Mundial, divulgado pelo Institute
for Management Development: em 2010, ocupávamos o 38º lugar; em 2011, o 44º; em
2012, 46º. Na edição 2013, o Brasil caiu mais cinco posições -está em 51º lugar
entre 60 países.
O resultado são montanhas de grãos ao
ar livre (principalmente soja e milho) por falta de armazenagem; quilométricas
filas de carretas para chegar aos portos; escassez de ferrovias, além de navios
e contêineres parados nos portos, multiplicando custos e reduzindo
competitividade.
É uma realidade que penaliza a
economia como um todo e atinge intensamente o setor do agronegócio, cuja cadeia
produtiva contribui com 22% na formação do PIB nacional.
A ausência de planejamento, o
improviso e a prioridade dada ao marketing têm condenado os desafios do Brasil
real ao esquecimento.
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