Fonte: Folha de S.Paulo
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Lembrei-me recentemente da observação que ouvi de uma senhora durante
visita que fiz a uma nova penitenciária feminina no meu Estado. Ao comentar a
importância da experiência que permitia que bebês ficassem com suas mães até
completarem um ano de idade, ela chamou a minha atenção para a facilidade com
que os homens cortavam os vínculos com suas companheiras, quando elas se
encontravam presas.
Enquanto nos presídios masculinos era comum ver mulheres visitando os
maridos anos a fio, o mesmo não ocorria quando era a mulher a sentenciada. E
concluiu: não sei se é porque eles não aguentam ou porque não se importam...
Recuperei esse comentário ao rever os dados do Fórum Econômico Mundial
("The Global Gender Gap Report 2012") que apontam os avanços que o
Brasil vem alcançando na diminuição das diferenças entre a participação
feminina e a masculina na sociedade.
A parceria do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) com bancos
privados brasileiros, estendendo ao país o programa de crédito e apoio a
mulheres empreendedoras, é mais um exemplo evidente dessa importância. Em dois
anos serão selecionadas 1.500 empresas pilotadas por brasileiras. Na parceira
com o BID, as instituições financeiras reconhecem que as mulheres têm taxas de
inadimplência menores e ocupam cada vez mais espaços maiores no mundo dos
negócios e nas universidades. Hoje, 22 milhões dos lares brasileiros são
chefiados por elas.
Estudo do Banco Mundial sobre a redução da pobreza na América Latina
mostrou que a renda proveniente do trabalho de mulheres contribuiu com 30% na
redução da pobreza extrema no continente.
Em Medellín (Colômbia), durante visita que fiz -a convite do meu amigo Luis
Alberto Moreno, presidente do BID, e ainda como governador de Minas- a comunidades recém-resgatadas do domínio do
narcotráfico, impressionava o número de cooperativas e pequenos negócios
conduzidos pelas chefes de famílias e o comprovado alcance social que tinham,
pelos empregos e pela estabilidade que geravam em áreas antes dominadas pela
violência e pela exclusão.
Por outro lado, não foi sem razão que o presidente Fernando Henrique
Cardoso determinou que a titularidade do cartão bancário do Bolsa Escola viesse
preferencialmente em nome das mães.
A proximidade do Dia Internacional da Mulher provoca sempre necessários
debates e reflexões acerca das desigualdades que ainda precisam ser vencidas
neste campo.
Mas existe uma verdade que, porém, não pode ser dimensionada pelas
estatísticas oficiais: há um valor ético diferenciado agregado à contribuição
que a mulher dá à nossa sociedade, e que merece mais atenção e reconhecimento.
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