O grupo Fiat confirmou sua decisão de preterir Minas e instalar em Pernambuco sua segunda fábrica de automóveis em território brasileiro. A montadora italiana negociou discretamente e obteve dos governos federal e do estado nordestino vantagens tributárias para investir R$ 3 bilhões na construção de uma unidade de grande porte, projetada para produzir 200 mil carros por ano, em sua primeira fase. Além das instalações industriais, a fábrica pernambucana da Fiat terá condições de desenvolver, testar e produzir novos modelos. Quando estiver em plena atividade vai gerar 3,5 mil empregos diretos. Segundo a direção da empresa, o primeiro modelo será o de um carro popular e barato, mas equipado com acessórios. A nova unidade faz parte dos planos de expansão da Fiat no mercado brasileiro, no qual o grupo é líder no segmento de automóveis de passeio e comerciais leves. A empresa pretende chegar à produção anual de 1 milhão de veículos a partir de 2014.
Além de incentivos fiscais estaduais e da cessão de um terreno 740 hectares com obras de terraplenagem por conta do governo de Pernambuco, a Fiat obteve uma série de benefícios, especialmente concedidos pelo governo federal. Parte do investimento será financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva incluiu na Medida Provisória (MP) 515, de 25 de novembro, alterações na legislação de incentivos fiscais em favor de investimentos privados da indústria automotiva no Norte e Nordeste, claramente destinados a viabilizar a localização da Fiat em Pernambuco. Em vigor desde 1996, esses incentivos fiscais terminariam este ano, mas foram prorrogados até 2020. Vão permitir à Fiat quitar tributos federais como PIS e Cofins com créditos acumulados de IPI, resultante de exportações. Além disso, a MP altera a Lei 9.440/97, que concede isenções de tributos federais a empresas que apresentarem projetos novos até 29 de dezembro, bem a tempo do projeto da Fiat.
É, portanto, resultado de decisivo empenho do presidente Lula em favor de estado comandado por um de seus aliados políticos, o governador Eduardo Campos (PSB). Nessa ação política em que a União prejudica os interesses de Minas, destino natural da nova unidade da Fiat, a montadora também cumpriu papel inaceitável ao golpear, sem justificativa, a mais bem-sucedida parceria entre uma comunidade e uma indústria automotiva no Brasil. Afinal, foi a partir da fábrica construída em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, há 36 anos, com renúncia fiscal e aporte de capital em espécie pelo estado de Minas Gerais, que o grupo italiano conseguiu recuperar o tempo e o terreno perdidos para seus concorrentes que tinham se instalado havia décadas no Brasil. Desde a equivocada opção pelo modelo 147, passando pela arrancada com o Uno, nos anos de 1980, até a liderança atual, a história da Fiat no Brasil não teria sido a mesma sem a parceria e o apoio de Minas. Tanto os italianos da montadora de Turim como o governo federal do presidente Lula e de sua sucessora, Dilma Rousseff, que obteve maioria dos votos aqui, seu estado natal, estão em débito com os mineiros. E serão cobrados.
Fonte: "Estado de Minas" - 16-12-2010
O editorial é bobo. Inventa razões políticas para uma decisão de negócios. O tom magoado do editorial tem origem no confronto de Aécio Neves com o governador de Pernambuco pela sucessão em 2014. Só isso.
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