Fonte: O
Globo
BRASÍLIA — Nas asas dos jatinhos
da Força Aérea Brasileira (FAB), ministros que serão candidatos no ano que vem
percorrem suas bases eleitorais num misto mal disfarçado de trabalho com
campanha antecipada. Quando não estão viajando, os auxiliares diretos da
presidente Dilma Rousseff abrem suas agendas em Brasília para receber líderes
políticos locais, já interessados nos dividendos em 2014.
De todos os ministros candidatos, a maior ofensiva, com a utilização
escancarada dos programas Minha Casa Minha Vida e entrega de caminhões e
retroescavadeiras do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC2) a prefeitos
de seus estados, tem sido da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, que
enfrenta dificuldades para emplacar sua candidatura contra o governador tucano
Beto Richa, no Paraná.
Gleisi é seguida nessa lista pelos ministros da Saúde, Alexandre
Padilha, prioridade das prioridades do PT em São Paulo, e o da Indústria,
Desenvolvimento e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, escalado para enfrentar
o reduto aecista em Minas Gerais.
Na penúltima semana de novembro, por exemplo, Gleisi e o vice-presidente
da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PT), fizeram uma propaganda maciça,
nas redes sociais, sobre uma nova rodada de entrega de máquinas e caminhões em
cidades do interior, realizada no sábado da semana passada, dia 23: “No sábado,
governo federal vai entregar 54 caminhões basculantes a cidades do Paraná
através do #PAC2”, anunciou a ministra, em sua página do Twitter.
Três dias antes, Vargas, que sempre acompanha a ministra, junto com o
deputado Zeca Dirceu (PT-PR) a eventos políticos com os prefeitos, já tinha
anunciado o evento no Twitter: “54 municípios do Paraná receberão caminhões com
caçamba neste sábado. Estarei na Lapa ao lado da ministra Gleisi”.
E não é só em viagens e eventos públicos no estado que Gleisi tem
participado de atos com conotação político-eleitoral. No gabinete da Casa Civil
também recebe uma romaria de prefeitos e políticos locais — tudo devidamente
registrado nas redes sociais por André Vargas: “Prefeitos de diversas cidades
do Paraná foram recebidos hoje no gabinete da ministra Gleisi Hoffmann”,
alardeou em 23 de novembro. Também postou registro do evento no Palácio do
Planalto, com a foto oficial da presidente Dilma ao fundo.
No dia 9 de novembro, um sábado, Gleisi fez novamente um ato com
prefeitos de Londrina, com Vargas e Zeca Dirceu. À FAB, ela requisitou um
jatinho para duas pessoas; em nota, sua assessoria chegou a anunciar a presença
do ministro da área, Pepe Vargas, do Desenvolvimento Agrário, mas ele não
apareceu.
Em 4 de outubro, Gleisi viajou ao Paraná duas vezes com Dilma para
entregar máquinas e anunciar bondades do governo. Em sua página na internet,
após a passagem de Dilma e Gleisi pelo Paraná para entregar máquinas, Zeca
Dirceu mostrou fotos de “banners” gigantes dele, ao lado das duas, com o
logotipo do PT, pregado em uma das caçambas.
Gleisi e Dilma tinham entregue pessoalmente a prefeitos paranaenses 179
chaves de caminhões, retroescavadeiras e motoniveladoras. Mas nos dias
seguintes, Zeca percorreu os municípios e, em novos eventos com os prefeitos,
entregou de novo as mesmas máquinas. As “reentregas” foram realizadas com
discursos e faixas de agradecimentos ostentando os nomes de Zeca, candidato à
reeleição, de Dilma e de Gleisi.
Padilha recepciona
médicos
A ministra mantinha agenda discreta de candidata até outubro. Os voos
solicitados por ela à FAB, até aquele período, tinham Curitiba como destino,
onde ela reside. Porém, em novembro ela começou a circular mais pelo Paraná.
Executor do programa-vitrine com o qual Dilma quer alavancar sua
reeleição, o Mais Médicos, o ministro da Saúde também tem mantido uma intensa
agenda de viagens, com prioridade para São Paulo. Com o mote de receber médicos
estrangeiros e discutir a necessidade dos profissionais nas cidades, ele
percorre o país, sempre com profissionais para registrar seus passos e suas
declarações. Material que poderá servir para sua candidatura ao governo de São
Paulo e à presidente, à reeleição.
No domingo, 27 de outubro, por exemplo, Padilha requisitou um jatinho
para ir de São Paulo a Recife, com equipe de assessores e fotógrafo, para
receber mais uma leva de médicos estrangeiros; depois voltou a São Paulo,
também em aeronave da FAB — o que é legal. Na véspera, viajara de Brasília a
Goiânia, para recepcionar outros médicos. Viagens também devidamente
documentadas por sua equipe.
Até mesmo ministro que não tem o que entregar — uma vez que a pasta que
comanda não tem como finalidade conclusão de obras ou serviços — aparece
assinando ordem para liberação de verbas ou entregando obras.
Caso de Fernando Pimentel, que também vem assumindo o lugar de Dilma na
entrega de máquinas do PAC2 a prefeitos mineiros. Em 18 de outubro, ele visitou
Juiz de Fora, Montes Claros, Paracatu e Belo Horizonte, onde mora. Um dia após
o presidente do PSDB e pré-candidato à Presidência, senador Aécio Neves (MG),
participar de um grande encontro regional no Triângulo Mineiro, em outubro,
Pimentel foi a Uberaba, onde entregou caminhões e tratores. Em 20 de novembro
foi a vez de ele entregar, em Governador Valadares, 70 máquinas
retroescavadeiras a prefeitos e prefeitas do Vale do Rio Doce.
Em 2 meses, Ideli
foi dez vezes a Santa Catarina
A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que terá de dar
satisfação à Comissão de Ética da Presidência sobre o uso de um helicóptero da
Polícia Rodoviária Federal para participar de agenda política, intensificou
suas viagens a Santa Catarina em agosto e setembro.
Foram cinco viagens em cada mês — incluindo o episódio no qual se
deslocou a bordo da aeronave que tem convênio com o Samu para transferir
acidentados. A oposição tem explorado o caso.
Enquanto a dona Ideli passeava no helicóptero do Samu fazendo campanha,
ele deixou de atender 116 casos graves em acidentes com mortes. Isso é uma
barbaridade! — disse o líder da minoria no Senado, Mário Couto (PSDB-PA).
De acordo com relatório dos voos divulgados pela FAB, as viagens de
Ideli para Florianópolis ou outras cidades de Santa Catarina se deram, na
maioria das vezes, às sextas-feiras. Porém, há outras atividades que ela
desenvolveu durante a semana. Em 29 de agosto, por exemplo, uma quinta-feira,
Ideli visitou obras no campus da Universidade Federal de Santa Catarina, em
Joinville, e anunciou a liberação de recursos para a cidade.
Entrega de
caminhões-pipa
Menos de um mês depois, em 13 de setembro, lá estava Ideli novamente na
cidade, dessa vez para receber o título de cidadã honorária de Joinville. Em 18
de outubro, ela foi à cidade de Gaspar para tratar das obras de uma ponte.
Outro que tem cuidado muito bem de suas relações políticas no seu estado
é Aguinaldo Ribeiro, ministro das Cidades. É difícil uma semana em que ele não
receba alguém da Paraíba ou viaje para lá. Em 1º de novembro, por exemplo,
esteve em Mamanguape para entregar casas.
Em 24 de outubro, concedeu audiências para três prefeitos paraibanos das
cidades de Bayeux, Coxixola e Várzea. No véspera, outros dois prefeitos
estiveram com ele: os representantes de Lucena e Algodão de Jandira. No dia 18
de outubro, uma sexta-feira, passou o dia em João Pessoa onde, entre outras
atividades, entregou caminhões-pipa.
Uso de aviões em
atos com viés eleitoral é negado
Os ministros negaram que estejam usando os jatinhos da Força Aérea com o
objetivo de se ir aos seus estados para fazer campanha. A assessoria de
imprensa da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, informou que
ela participa de eventos para os quais é convidada, desde que não interfiram em
suas atividades em Brasília.
“Vale lembrar que é competência da ministra–chefe da Secretaria de
Relações Institucionais a interlocução com estados, Distrito Federal e municípios”,
afirma a assessoria.
A assessoria da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, declarou que
ela foi a cidades paranaenses recentemente para representar a presidente Dilma
Rousseff em eventos oficiais. Por meio da assessoria, Gleisi disse que “fazer entregas
de equipamentos e obras de programas de governo é parte das atribuições dos
ministros, inclusive da Casa Civil, que coordena implantação e execução de
muitos programas”.
A Casa Civil segue: “A inauguração de obras e a entrega de equipamentos
são também prestação de contas à população. Um governante se elege, assume
compromissos com a sociedade e tem que fazer as entregas. A equipe auxilia o
governante. Como auxiliar da presidente, a ministra Gleisi tem colaborado nesse
sentido”.
O ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, negou, por sua assessoria,
que priorize atendimento a políticos de seu estado: “O ministro tem a prática
de manter as portas abertas do ministério para todas as autoridades que o
procuram”.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio informou que
Fernando Pimentel segue as regras para o uso das aeronaves da FAB. “O texto
autoriza aos ministros de Estado a utilização das aeronaves da FAB nas viagens
a serviço e nos deslocamentos entre Brasília e suas cidades de residência permanente,
que, no caso do ministro, é Belo Horizonte. O ministro passa os finais de
semana na capital mineira desde que assumiu o ministério. É onde mora a
família”, afirmou.
O Ministério da Saúde informou que a agenda de Alexandre Padilha não é
pautada por diretrizes político-partidárias, nem eleitorais: “O ministro cumpre
extensa agenda de trabalho, composta de compromissos e atividades para o
acompanhamento e o monitoramento de programas e ações desenvolvidos pelo
Ministério da Saúde, em parceira com as secretarias estaduais e municipais de
Saúde. Além disso, o ministro vistoria o andamento de obras e acompanha a
execução dos programas federais para a Saúde em unidades de saúde em todos os
estados brasileiros”.
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