Fonte: Folha de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff cometeu enorme
injustiça com o técnico Luiz Felipe Scolari ao dizer que seu governo tem um
"padrão Felipão". Foi uma comparação infeliz, já que em nada os
"times" se assemelham. A primeira grande diferença é que Felipão
convocaria os melhores, e não os mais próximos ou os mais amigos.
Por tudo que os brasileiros conhecem
dele, sabem que não toleraria qualquer tipo de privilégio. Transparente como é,
seria intransigente com os desvios, a má conduta e a corrupção. Corajoso,
jamais jogaria só para a torcida, evitando decisões às vezes difíceis e
impopulares, mas necessárias.
Onde o treinador está a sua liderança
se estabelece naturalmente pelo respeito e competência. Suas firmes convicções
nunca o impediram de aceitar críticas e reconhecer erros quando eles ocorrem.
Aprendeu a acolher o sentimento
nacional do que se convencionou chamar, simbolicamente, de pátria de chuteiras,
que jamais imaginou dividir em duas. Não ignora o que gritam as arquibancadas.
Sabe, como poucos, canalizar a energia da massa em favor do seu time para a
superação de grandes desafios.
Se introduzido como paradigma para
administração pública, o padrão Felipão mudaria importantes prioridades do
governo. Logo de início, certamente armaria uma defesa intransponível contra a
inflação.
Seus volantes marcariam a corrupção
sob pressão. A articulação do meio-campo se daria sob o regime de alta
transparência e solidariedade de esforços. No ataque, a criatividade e o
talento brasileiros ganhariam espaço e estímulo para aplicar goleadas nos
nossos verdadeiros inimigos --a desigualdade, a ignorância, a violência, a
injustiça e o baixo crescimento.
Com um padrão Felipão correríamos dez
vezes mais, de forma organizada, perseguindo objetivos claros. A leniência
estaria fadada ao banco de reservas, a incompetência levaria cartão vermelho
assim que entrasse em campo, e o improviso não provocaria vaias nos estádios
lotados.
O estilo Scolari não canta vitória
antes da hora, não permite salto alto e nem desrespeito ao oponente. Entende
adversários como adversários, nunca como inimigos, e é capaz inclusive de
reconhecer méritos neles. É duro, mas leal e verdadeiro. Sofre cada segundo
enquanto seus jogadores se matam em campo pelo melhor resultado. Quando perde
--e às vezes perde--, é o primeiro a assumir suas responsabilidades. Não a
transfere nem terceiriza e sempre acrescenta algum aprendizado.
Exemplos como o do técnico são
preciosos quando ultrapassam a fronteira do utilitarismo e da apropriação
indevida e incorporam valores como qualidade, espírito de equipe e convergência
em torno de causas comuns. Sem esquecer o mais importante: o Brasil em primeiro
lugar.
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