Começo a semana diferente, com a responsabilidade de dirigir o
maior partido de oposição do Brasil.
Ninguém desconhece as enormes dificuldades da representação
política no país. Embalado pela profusão de cerca de três dezenas de legendas e
pela lógica do modelo de governança de coalizão, o quadro partidário é anêmico:
sofre de forte descrédito, movido por denúncias graves de apropriação e manejo
indevido de recursos e um sem-número de outras incongruências.
Faltam nitidez programática e posicionamento. No lugar das
ideias, prevalece a sobrevivência eleitoral, à reboque de alianças
contraditórias. Algumas inexplicáveis.
O aliciamento político, a partilha de cargos e os interesses em
extensas áreas da administração pública enfraqueceram o debate nacional e
tornaram o exercício do contraditório cada vez mais raro, quase uma
excentricidade. Para impedi-lo, lança-se mão do expediente de tentar transmudar
cobranças legítimas, críticas e questionamentos em antipatriotismo, como se
governo e país fossem um só.
A política de alianças e a composição de uma base congressual
extensa e heterogênea, como a atual, só se justificam quando se constituem em
ferramenta política para fazer mudanças estruturais necessárias, enfrentar
corporativismos ou garantir viabilidade de reformas. É o preço que se paga para
fazer o que precisa ser feito, o que, muitas vezes, requer medidas impopulares,
que deveriam superar a conveniência da hora ou das urnas futuras.
O descrédito com a atividade política se amplia mais com o
descompasso existente no país entre promessa e compromisso. O que, em política,
deveria ser sinônimo, na prática são termos que não guardam nenhuma relação
entre si.
Recordo, uma vez mais, apenas um dentre inúmeros exemplos, a
promessa não cumprida da presidente da República na campanha de 2010 de
desonerar as empresas de saneamento como forma de acelerar os investimentos na
área.
Temos governos que não se sentem obrigados a cumprir o que
pactuaram com a população nas urnas e uma população que, já amortecida por
sucessivas frustrações, parece achar isso natural, a ponto de abrir mão de
justas cobranças.
E, com isso, reveste de triste verdade a famosa frase de
Apparício Torelly, o Barão de Itararé, adaptada à política: de onde menos se
espera, daí mesmo é que não sai nada".
Nesse ambiente de descrédito, onde todos perdem, os partidos
precisam retomar a responsabilidade que lhes cabe na representação da
sociedade.
Para nós, do PSDB, uma das principais tarefas nesse campo tem sido
buscar formas de impedir que a política perca, aos olhos da população, a sua
legitimidade como instrumento transformador da realidade.
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