Insatisfação na base é propícia à proliferação de denúncias
Fonte: Valor Econômico
As denúncias sobre a evolução patrimonial do chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci, encontram a base aliada num momento de dupla insatisfação com sua atuação, segundo relato de parlamentares ouvidos pelo Valor. O primeiro motivo de descontentamento baseia-se em reclamações sobre a falta de articulação política do governo, da demora no preenchimento dos cargos e na liberação de emendas e, também, da pouca atenção dada a deputados e senadores que apoiam a presidente Dilma Rousseff. A outra fonte de insatisfação, mais específica, refere-se a uma guerra interna do PT, sobretudo o de São Paulo, que estaria inconformado com o poder do chefe da Casa Civil no governo federal.
“A balística deste tiro é clara, isso é briga por espaço. Não importa quem está na vaga, o que se leva em conta é que eu [leia-se PT ligado ao ex-deputado José Dirceu] não ocupo esta vaga”, disse um parlamentar experiente nas disputas internas do partido.
No caso da base aliada, as reclamações são generalizadas. O governo Dilma Rousseff tem demorado demais a definir o espaço dos aliados na máquina pública federal. Além disso, em diversos estados, tem trocado apadrinhados políticos por nomes técnicos, deixando os deputados e senadores descontentes. O próprio PT pressiona o Planalto para ter mais agilidade: na semana passada, Palocci recebeu uma lista com pouco mais de cem nomes de filiados disponíveis para ingressar no governo. “Eles querem devorar tudo”, protestou um deputado do PMDB.
Outro aspecto que dificulta as relações é a morosidade na liberação das verbas das emendas parlamentares individuais. No início do ano, foi anunciado um contingenciamento de R$ 50 bilhões, dos quais R$ 18 bilhões correspondem às emendas individuais. Soma-se a esse quadro a solução insatisfatória para os restos a pagar de 2007 a 2009. O governo liberou somente os de 2007 e 2008 no caso das obras já iniciadas ou com máquinas contratadas, e prorrogou as de 2009 até 30 de junho – os aliados querem esticar esse prazo até dezembro.
“Deputado vive do recurso que leva para o seu município, para sua base eleitoral, para seu prefeito. Sem isso, o que nós vamos apresentar como prestação de contas?” reclamou um líder da base aliada.
A dupla função na articulação política do governo Dilma também tem funcionado pouco: parlamentares da base aliada reclamam que Palocci teria pouca paciência para encontrar-se com os aliados, mantendo uma agenda restrita apenas aos líderes partidários; e que o varejo estaria a cargo do ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, que não tem força política para resolver as questões junto à Presidência. Se não houver uma alteração nessa estrutura, “o Congresso pode explodir quando vier uma crise de grande proporções”, disse um senador do PT.
A falta de clareza sobre o que o governo espera do Congresso também incomoda. “Não tem diretriz nenhuma, tudo está muito distante, frio, não tem projeto, não tem interlocução”, disse um deputado com três mandatos. (PTL)
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