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Reinaldo Azevedo
O
Apedeuta anda criticando o governo Dilma em conversa com interlocutores.
Primeira pergunta: ele quer voltar? A segunda: há a possibilidade de ser ele o
candidato do PT? A terceira: as críticas fazem sentido?
Pois é… Vou começar pela mais
fácil... Sim, Lula adoraria voltar. Eu diria até que, intimamente, ele não
pensa em outra coisa. Mas sabe que isso é muito difícil — diria mesmo ser
impossível hoje. Num cenário de catástrofe, não tenham dúvida de que o salvador
da pátria se apresentaria.
Mas isso não está no horizonte.
Ademais, Dilma não exibe números espetaculares segundo os institutos de
pesquisa, mas é franca favorita à reeleição — e no primeiro turno, segundo os
números de hoje. Talvez, lá no fundo do peito, nos seus desejos mais
recônditos, mais profundos, o ex-presidente até torcesse para que ela
despencasse e se mostrasse uma candidata de alto risco. Mas isso não aconteceu.
Botá-la em escanteio seria visto como um gesto truculento e, na verdade,
desnecessário.
Então sintetizo agora duas
respostas numa só: querer, ah, isso ele quer muito. Mas não pode. Não tem como
tirar Dilma do meio do caminho.
Lula virou uma espécie de
psicanalista de alguns setores descontentes com o governo. Tem recebido uma
verdadeira romaria — inclusive de alguns pesos pesados da economia — que lhe
pedem para voltar. Desde José Rainha — um dissidente esquerdista do MST, que agora
fundou seu próprio movimento — a alguns pesos pesados do PIB, a romaria dos que
vão a Lula é grande.
E ele não se furta ao papel
absurdo de presidente paralelo. Ouve as reclamações, tranquiliza o
interlocutor, promete providências e, como se nota, deixa vazar críticas à sua
sucessora. Lula, como sempre, está descumprindo uma promessa. Tinha anunciado
que seria um ex-presidente discreto e silencioso, como nunca antes na história
deste país, para usar um bordão seu. E, como nunca antes da história deste
país, é um ex-presidente que tem ambição de continuar governando.
O
chefão petista considera — a Folha de
hoje traz uma reportagem a respeito — o governo Dilma centralizador demais e
avalia que ela se afastou dos empresários. Acha a gestão pesada, lenta.
Acredita também que a atual equipe econômica já deu o que tinha de dar — vale
dizer: Guido Mantega. As suas críticas, afinal de contas, procedem?
Depende. Tomadas as coisas como
são, a resposta é “sim”. Mas Dilma faz algo muito diferente, ou deixa de fazer
alguma coisa, na comparação com o seu antecessor, o próprio Lula? A resposta é
“não”. Então o que foi que mudou? A realidade internacional.
Deem
a Dilma a mesma economia mundial que Lula tinha, com a China crescendo em ritmo
alucinante, com o preço das commodities primárias nas alturas, e ela se sairia
melhor. Deem a Dilma um cenário de corrida do dinheiro para os países
emergentes para fugir da crise americana e europeia, e ela se sairia melhor.
Acontece que esses eventos não vão se repetir.
Dilma está pegando a fase final
das “virtudes” do modelo lulista, ancorado no consumo. O déficit de US$ 11,591
bilhões nas contas externas em janeiro começou a ser fabricado no governo Lula.
O rombo certo na balança comercial em 2014 — o primeiro em 13 anos — também
começou a ser fabricado no lulismo. O papel cada vez mais modesto da indústria
no PIB e um déficit de US$ 110 bilhões do setor no ano passado têm a digital
indelével de… Lula!
Pergunte-se: que reforma
estrutural importante ele encaminhou? O que efetivamente fez pelo investimento
em infraestrutura? Em vez de privatizar aeroportos e estradas, por exemplo,
passou oito anos demonizando as privatizações por motivos estritamente
políticos, por proselitismo ideológico vigarista. A crise da Petrobras, para
citar um caso emblemático, é uma das heranças malditas que Lula deixou para a
sua sucessora.
O governo Dilma é, sim, a meu
juízo, muito ruim — mas não é pior do que era o de Lula. O que mudou de modo
importante foi a conjuntura internacional, e o PT não estava preparado para
isso.
Encerro apontando a absoluta
falta de pudor político de um ex-presidente da República que se dá ao desfrute
de manter reuniões com empresários e de fazer vazar as suas críticas,
constrangendo a sua sucessora. Ainda que Dilma não se elegesse nem síndica de
prédio em 2010 sem o seu apoio, o fato é que ela é a atual presidente da
República.
No fim de 2010, Lula afirmou que
iria gastar seu tempo como ex-presidente cozinhando coelho em seu sítio, em
Ribeirão Pires. Pelo visto, anda mais ocupado alugando a orelha para tubarões.
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