quarta-feira, 14 de setembro de 2011

De quem provém essa herança maldita?





Por Sandra Starling

Como um bumerangue, a frase usada e abusada por Lula, em relação ao que recebeu do governo de seu antecessor, vira agora arma voltada para seu próprio peito. Leio análises e ouço discursos de apoio a Dilma em que, milagrosamente, some de cena toda a participação que ela teve no governo de Lula, sobretudo após 2005. Mas antes também. E, mais ainda que isso, Dilma aparece como vítima de uma aliança eleitoral da qual foi a maior beneficiária. Friso: sem essa aliança, não haveria como elegê-la e, ao embarcar nessa canoa, ela tinha conhecimento pleno de todas as companhias que levava junto.

Parece que se esquecem das amáveis palavras com que defendeu Sarney no capítulo dos escândalos no Senado Federal. Quase ninguém se lembra da companhia do senador Gim Argello com quem ela, pouco antes da campanha presidencial, assistia a missas dominicais em Brasília. É figura carimbada por denúncias de falcatruas orçamentárias. Será que ela desconhecia as práticas da banda fisiológica do PMDB?

É bom lembrar aqui o papel de chefe da Casa Civil da Presidência da República. Esse cargo quase corresponde ao de primeiro-ministro em um sistema de governo parlamentar. A Casa Civil tem, sobretudo, o condão de zelar pela legalidade dos atos praticados pelo presidente da República ou os que emanam de outros ministérios e dependem da assinatura presidencial. Ademais disso - fico com vergonha de parecer arrogante, lembrando o que devia estar na lembrança de todo mundo - a ela foi outorgado o papel de coordenadora de todas as demais pastas e, portanto, a última a dar a palavra sobre tudo e todos; e a primeira a ser ouvida, quando dúvidas havia sobre o que se pretendia fazer.

A ela competia, ainda, chamar às falas quem não cumpria prazos e obrigações. Ou de onde terá vindo sua fama de "gerentona" - tanto no sentido da capacidade de fazer as coisas andarem, quanto no estilo, digamos, "meigo", como ela própria qualifica seu jeito de "mandona"? Será que nada disso existiu? Será que ela passou com cara de paisagem pelo governo de Lula?

Agora estão dizendo que a faxina ética só não anda porque Lula ficaria no pé dela, lembrando-lhe a tal "governabilidade". Não sabia ela que, juntando todo aquele conjunto amorfo de gente de toda espécie, seu governo correria o risco de ser uma barafunda só? Aliás, se o que leio merece crédito, não há uma área sequer onde as coisas estejam caminhando a contento. Ouso, por isso, dizer que, se há uma herança maldita, essa foi também um legado de si mesma, dado o importante papel que exercia no governo Lula.

E, falando em herança maldita, para não deixar passar em branco: a capacidade de esquecer não parece ser um apanágio só dos brasileiros. A tremenda ovação a Bush na cerimônia do 11/9, em Nova York, me faz indagar: será que essa gente toda não percebe que a atual crise econômica dos EUA se deve, em grande parte, à infundada guerra de "três trilhões de dólares" (Stiglitz) que Bush resolveu fazer no Iraque depois da insanidade de todos aqueles atentados?

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